Um em cada três médicos dentistas abdicou do salário para mitigar a suspensão da atividade e a diminuição de consultas, por causa da pandemia COVID-19. Esta é uma das conclusões do inquérito realizado pela OMD, em agosto, para aferir o impacto da infeção por SARS-CoV-2 na retoma da atividade. Dos 10.653 membros com inscrição ativa responderam 4.136 profissionais, que confirmaram o cenário que a Ordem previa.

Dos que responderam ao inquérito, 33% disseram que reduziram ou abdicaram do salário enquanto sócios-gerentes, 15% reduziram horários de trabalho e quase 11% mantiveram funcionários em layoff. Medidas necessárias, uma vez que os “apoios foram parcos numa fase inicial”. Em declarações ao Observador, o bastonário da OMD concluiu “que o impacto nestes primeiros meses é enorme, não sabemos o que irá acontecer no futuro, nomeadamente, se existir uma segunda vaga” da pandemia de COVID-19.

Por outro lado, Miguel Pavão salientou que o inquérito à classe permitiu aferir que, daqueles que responderam, 46% não auferiram qualquer rendimento ou receberam apoio social, enquanto a atividade esteve suspensa por decreto governamental (exceto em situações urgentes e inadiáveis), sendo que quase 80% aderiram ao regime de layoff simplificado para os funcionários e 26% beneficiaram do programa “Adaptar” para microempresas ou PMEs.

Razões pelas quais, o bastonário explicou, à Rádio Observador, que é importante que a linha “Adaptar” inclua apoios específicos para “profissionais de saúde e clínicas de medicina dentária”. “Há linhas de apoio que devem ser adaptadas às necessidades e requisitos da medicina dentária, que não se enquadra em apoios já existentes”, argumentou.

Por outro lado, defendeu que é “crucial” a criação de uma “reserva estratégica de EPI”, tendo inclusive alertado a tutela para esta necessidade, de forma a evitar que os médicos dentistas fiquem impedidos de exercer por falta de equipamentos de proteção individual.

Estas preocupações foram também transmitidas ao Presidente da República, durante uma audiência em que Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o bastonário da OMD. No encontro, adiantou Miguel Pavão à Lusa, “falámos do que nos preocupa que tem a ver com uma hipotética segunda vaga e não queremos ser apanhados desarmados e impreparados”. Foi apresentado o impacto “sem precedentes” da pandemia na área da medicina dentária, que mostrou “as vulnerabilidades e a inexistência de apoios para a adaptação e mitigação desta crise sanitária”. Em declarações à comunicação social à saída da audiência (link para vídeo da TVI: http://pt.cision.com/cp2013/ClippingDetails.aspx?id=7814ee39-74c1-42b0-8029-20a140260d19&userId=334ad392-8089-4909-8189-9f439fa52590), o bastonário referiu que expôs ao Presidente da República “a situação excecional” e as dificuldades causadas pela COVID-19, bem como outros problemas que a profissão enfrenta, nomeadamente ao nível da empregabilidade e de integração no Serviço Nacional de Saúde.

Recorde-se que, nas últimas semanas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou que a medicina dentária foi amplamente esquecida durante a pandemia, uma vez que três em cada quatro países interromperam total ou parcialmente os serviços de atendimento de medicina dentária devido à pandemia COVID-19.

 

Outra conclusão do inquérito da OMD que importa salientar é o facto de que, dos mais de quatro mil médicos dentistas que responderam, 99,5% escaparam à infeção em ambiente clínico, dado que, na opinião de Miguel Pavão, “demonstra que as medidas aplicadas são adequadas e que os médicos dentistas sabem o que estão a fazer no que concerne à infeção cruzada”, um fator que transmite confiança para a população.