Um inquérito realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), em agosto, mostra que em 71% das clínicas e consultórios a faturação caiu quando comparada com os meses de maio e junho do ano passado, sendo que quase 20% dos inquiridos reportam uma quebra superior a 40%, e 35% registaram uma descida entre 21 a 40%.

Participaram no inquérito 4.136 médicos dentistas, de um total de 10.653 membros com inscrição ativa na OMD.

O inquérito pretendeu fazer um primeiro balanço do impacto que a COVID-19 está a ter nos consultórios e clínicas de medicina dentária após a reabertura da atividade.

Por imposição do Governo, os médicos dentistas estiveram parados entre meados de março e 4 de maio, atendendo apenas situações urgentes ou inadiáveis.

Entre os que responderam ao inquérito, perto de 68% refere que o número de consultas diminuiu após a reabertura. Para 46% dos que participaram no inquérito, o número de consultas diárias baixou entre uma a cinco, para 35% houve uma redução de seis a 10 e para quase 14% houve uma quebra superior a 10 consultas diárias.

Para a reabertura das clínicas e consultórios de medicina dentária foram adoptadas uma série de medidas de prevenção de contágio da Covid-19 que obrigam, entre outras, à desinfeção dos gabinetes entre consultas. 45% Dos médicos dentistas reportam um aumento entre 15 a 30 minutos no intervalo entre consultas, 30% até 15 minutos e 15% mencionam um intervalo superior a 30 minutos.

De salientar que 99,5% dos médicos dentistas não se contaminou em ambiente clínico, o que demonstra que as medidas aplicadas são adequadas e que os médicos dentistas sabem o que estão a fazer no que concerne à infecção cruzada.

Entre os médicos dentistas, 40% considera que os doentes não têm receio de contágio nas consultas, 30% admite que existe algum medo e 25% diz que talvez.
Há 48% de inquiridos que relatam menor disponibilidade financeira dos doentes para prosseguir tratamentos planeados.

Miguel Pavão, bastonário da OMD, salienta que “estamos a viver uma época sem precedentes na medicina dentária. E se podemos concluir que o impacto nestes primeiros meses é enorme, não sabemos o que irá acontecer no futuro, nomeadamente, se existir uma segunda vaga. De todas as crises que já atravessámos esta ameaça ser a pior”.

Questionados sobre a sua situação salarial e apoios sociais durante o período em que as clínicas e consultórios de medicina dentária estiveram com a atividade limitada, 46% dos médicos dentistas dizem que não auferiram de qualquer rendimento ou apoio social. Há 8% que recebeu até 250 euros, perto de 18% que conseguiu até 499 euros e outros tantos que obtiveram até 999 euros.

Quase 80% dos inquiridos aderiu ao regime de lay-off simplificado para os funcionários e 26% beneficiou do programa ‘Adaptar’ para microempresas ou PMEs. Menos de 5% dos médicos dentistas conseguiram aderir ao lay-off para sócios-gerentes e 9% pediram apoios, mas não os conseguiram.

Entre as medidas adoptadas pelos médicos dentistas para mitigar os efeitos do encerramento e da redução do número de consultas, 33% confessa que reduziu ou abdicou do salário enquanto sócio-gerente, 15% reduziu o horário de trabalho dos médicos dentistas e quase 11% mantém funcionários em lay-off.

Para o bastonário da OMD, Miguel Pavão, é “urgente que o Governo adopte medidas específicas para a medicina dentária. Há linhas de apoio que devem ser adaptadas às necessidades e requisitos da medicina dentária, que não se enquadra em apoios já existentes. No caso dos médicos dentistas, o Governo tem muito trabalho a fazer. Deveria ter olhado de imediato para as empresas desta área, tendo em conta que foi o próprio Executivo, através do Ministério da Saúde, que suspendeu a nossa atividade. Quase 91% dos médicos dentistas que participaram no inquérito têm microempresas e quase 7% são PMEs com menos de 10 funcionários. É urgente apoiar estas empresas, sob pena de a situação económica que o País atravessa resultar em mais prejuízos. É importante lembrar que 98% dos cuidados de saúde oral prestados à população são realizados por privados, é a saúde oral da população que está em risco e Portugal já tinha antes da pandemia um dos piores índices de acesso a cuidados de saúde oral da Europa”.