O Conservatório de Música de Coimbra acolheu no passado sábado, dia 9 de março, o segundo Compromisso de Honra de 2024. Depois da primeira cerimónia em Almada, uma semana antes, foi a vez de 34 médicos dentistas prestarem um juramento de honra sentido, perante a sua família e amigos, e ao som do fado. O Grupo de Fados Tempos de Coimbra, que integra dois profissionais de medicina dentária, interpretou a balada “Fado Amor a Coimbra”, que evoca o amor e a saudade pela cidade e a própria academia.

Como já é tradição, a OMD também homenageou os membros com mais de 30 anos de prática clínica. Em Coimbra, 11 médicos dentistas subiram ao palco para receberem uma medalha de reconhecimento pelos serviços prestados à população portuguesa. Mais uma vez, Miguel Pavão, bastonário da OMD, e Luís Filipe Correia, presidente do Conselho Deontológico e de Disciplina da Ordem, entregaram as distinções.

Visualize um vídeo com os destaques do Compromisso de Honra Centro 2024:

A importância dos mestres

Manuel Antunes, antigo professor e médico com especialidade em cirurgia cardiotorácica, foi o orador convidado do segundo Compromisso de Honra. Partindo da sua própria experiência, que incluiu mais de 25 mil cirurgias de coração aberto, entre as quais mais de 10 mil operações valvulares (cerca de 3.000 valvuloplastias mitrais e aórticas), o atual presidente das Cáritas Diocesana de Coimbra deixou um conselho aos médicos dentistas.

“Tal como dizia Newton [físico e astrónomo que viveu no século XVII], se eu vi mais longe foi porque fui transportado aos ombros de gigantes. Tive a sorte de ter muitos mestres”, sublinhou Manuel Antunes, alertando a plateia, sobretudo os novos membros, para a importância de consultar e ouvir os profissionais mais experientes.

No final do seu discurso, Manuel Antunes recebeu de Miguel Pavão uma imagem da Santa Apolónia, padroeira dos médicos dentistas, produzida no âmbito das comemorações dos 25 anos da Ordem dos Médicos Dentistas, em 2023.

Os valores da profissão

Antes do juramento de honra, o bastonário da OMD lembrou os princípios deste ato solene para reforçar os valores que todos os profissionais de medicina dentária devem respeitar.

“O Compromisso de Honra firmado pelos novos colegas constitui mais do que um mero ritual de passagem. A adoção de uma profissão médica e a investidura na respetiva cédula profissional impõe-nos não só uma responsabilidade maximizada e a obrigação de regular os atos profissionais por um código de normas éticas e deontológicas, mas também o dever permanente de atualização e formação em técnicas e conhecimentos científicos essenciais ao exercício de uma profissão que é bela, mas também muito exigente e difícil. Que o digam os vossos colegas que recebem uma medalha pelos seus 30 anos. Quem um dia se tornou verdadeiramente um médico dentista dificilmente deixará de o ser. O Compromisso de Honra constitui sobretudo um momento solene de afirmação e vínculo aos valores que norteiam a nossa profissão, que antes de tudo é uma profissão médica e por isso essencialmente humana. Guiada pelos valores da abnegação, da integridade e da dedicação ao próximo, dedicação àqueles que são os beneficiários diretos da nossa prática profissional, os nossos doentes”, partilhou Miguel Pavão.

Já Luís Filipe Correia, presidente do Conselho Deontológico e de Disciplina, evocou as dimensões éticas e morais que devem reger a carreira de médico dentista, sublinhando a importância dos direitos dos doentes no âmbito da prática clínica.

“O domínio do conhecimento científico e técnico, associados a altos valores morais e éticos, constituem a base do nosso comportamento profissional. Associado sempre a um objetivo comum: o de praticar o bem. O bem pelo próximo e abster-nos de práticas não justificáveis ou desadequadas ou praticar ainda algum mal ao doente. A nossa prática clínica diária deve respeitar essencialmente os direitos dos doentes, nomeadamente a liberdade do doente em escolher o médico dentista com o qual pretende ser tratado. No direito que o doente tem no acesso à sua informação clínica, no respeito pela dignidade humana, no direito à continuidade da prestação de serviços dos tratamentos realizados pelo médico dentista, no direito de solicitar uma segunda opinião, no direito de reclamar e no completo respeito pelo sigilo profissional, de forma a garantir a confidencialidade e privacidade”, referiu Luís Filipe Correia.

Por fim, Catarina Duarte, em representação do Conselho de Jovens Médicos Dentistas, retratou o contexto atual da medicina dentária e deixou vários conselhos aos novos membros.

“O início da profissão não é fácil. Nem digno, por vezes. Mais de metade dos jovens médicos dentistas recebem menos de 1000 euros líquidos por mês, 80% dos jovens médicos dentistas que exercem, na sua maioria em clínicas com acordos ou convenções, são obrigados a executar atos médicos gratuitos. E 75,5% sentem pressão para faturar mais em detrimento das suas responsabilidades éticas. São evidentes as situações de precariedade, subemprego e de insegurança que nos roubam a esperança e que levam a que muitos dos nossos colegas abandonem o país em busca de uma vida melhor. Realidades estas que evidenciam a falta de planeamento de recursos humanos existentes e a necessidade de políticas de saúde oral mais coesas” começou por referir Catarina Duarte.

“Deixo-vos um desafio. Sejam médicos dentistas capazes de encontrar na dificuldade uma oportunidade de construir um novo rumo. Apesar de a profissão tradicionalmente se caracterizar por uma atuação marcadamente clínica, procuremos explorar caminhos profissionais alternativos, que sei que somos capazes de exercer com bastante qualidade e que farão a diferença na saúde oral e geral das pessoas. Sejamos agentes de mudança. A nós, jovens, futuro da classe, cabe-nos valorizar, ter um olho crítico, sermos ativos em causa própria, dignificar a profissão e trabalhar em prol da comunidade”, acrescentou.

De referir que em Coimbra, além de Manuel Antunes, estiveram presentes Manuel Fontes de Carvalho (antigo bastonário da OMD), Carlos Cortes (bastonário da Ordem dos Médicos), Luís Filipe Almeida (presidente da Secção Regional do Centro dos Engenheiros Técnicos), Francisco do Vale (coordenador do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra) e Rita Noites (docente da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade Católica Portuguesa). Os órgãos sociais da Ordem dos Médicos Dentistas e a direção do Colégio de Periodontologia da OMD também compareceram no evento.

Este domingo, dia 17 de março, o Mosteiro São Bento da Vitória, no Porto, recebe a última cerimónia de Compromisso de Honra de 2024.

Assista à gravação vídeo completa do Compromisso de Honra Centro 2024: