Joana Morais Ribeiro, representante da Região Autónoma dos Açores no Conselho Diretivo (CD) da Ordem dos Médicos Dentistas, concedeu uma entrevista ao jornal açoriano Atlântico Expresso em que abordou os desafios do setor da medicina dentária na região.

Para Joana Morais Ribeiro, a principal preocupação está relacionada com o acesso aos cuidados de saúde oral porque “o Serviço Regional de Saúde (SRS) não tem capacidade para dar resposta a todas as necessidades”.

“A Ordem dos Médicos Dentistas defende a urgente melhoria da única parceria público-privada da região no âmbito da saúde oral que permite a livre escolha do prestador por parte do utente, atuando de forma complementar ao trabalho desenvolvido no SRS, potenciando a acessibilidade dos cidadãos à saúde oral, através da atualização da tabela de reembolsos atualmente em vigor”, afirma a médica dentista, vincando que em Junho de 2022 a OMD apresentou à Secretaria Regional da Saúde e Desporto o estudo “Apuramento do Custo de Tratamentos em Medicina Dentária”, elaborado pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, que permitirá conduzir esta atualização.

A representante dos Açores no CD da OMD referiu, ainda, o Barómetro de Saúde Oral da Ordem dos Médicos Dentistas, de 2022, para evidenciar outra das preocupações atuais: a falta de hábitos de higiene oral dos portugueses, comum à região.

“O Barómetro indica que diminuiu para 73,1% a percentagem de portugueses que escova os dentes pelo menos duas vezes por dia. Os dados demonstram que ainda há muito trabalho a ser feito em termos de literacia e da perceção da relação da saúde oral com a saúde geral. Deveria haver uma maior preocupação dos açorianos com a sua saúde em geral e a preocupação com a saúde oral ser uma parte do problema”, explica Joana Morais Ribeiro, sublinhando o trabalho que tem sido feito na região para mitigar os baixos índices de literacia em matéria de saúde oral.

“Neste ponto é importante reconhecer o papel que as equipas de Saúde Escolar têm tido em termos de literacia das crianças e jovens, e consequentemente da comunidade, bem como da promoção da saúde e do acesso aos cuidados, no caso da medicina dentária, através dos rastreios de saúde oral e sessões de educação para a saúde. Será importante continuar a apostar no programa da Saúde Escolar, tornando-o ainda mais ambicioso, não só pela dotação de um maior orçamento que permita aumentar as atividades promovidas, bem como o número e diversidade de profissionais envolvidos, melhorando as condições logísticas que fazem com que a Saúde Escolar consiga funcionar em pleno”, refere.

Criação da carreira de médico dentista no SRS

Joana Morais Ribeiro abordou também a criação da carreira de médico dentista no SRS, um dossiê entregue à tutela, e explicou o porquê da sua importância. “Recentemente, na visita ao Hospital da Horta, a OMD deparou-se com outra situação preocupante: o posto de trabalho de um segundo médico estomatologista não voltou a ser preenchido e o único a exercer está próximo da sua aposentação.

Atendendo à dificuldade na fixação de médicos seria muito importante abrir este posto de trabalho a médicos dentistas que pudessem, desde já, iniciar o aperfeiçoamento das suas competências no âmbito hospitalar para que esta transição fosse feita da forma mais eficiente e menos prejudicial para os utentes do hospital, criando-se assim o Serviço de Medicina Dentária e Estomatologia, à semelhança do que atualmente existe na Região Autónoma da Madeira”, considera a representante dos Açores no CD da OMD.

Na entrevista ao Atlântico Expresso, Joana Morais Ribeiro defendeu a aposta na formação contínua como uma “necessidade e um dever” do médico dentista e revelou que o número de cidadãos estrangeiros que procuram os Açores para os seus tratamentos de reabilitação oral tem aumentado.