O desperdício com cheques-dentista, que são atribuídos a grupos específicos da população para utilização em clínicas e consultórios privados, tem sido uma constante ao longo dos anos — cerca de um terço não são usados — mas em 2021 este valor atingiu um recorde. O ano passado foi aquele em que mais cheques-dentista foram emitidos — 711 mil —, mas, proporcionalmente, foi o ano em que o desperdício foi mais gritante — 41% dos vales, 292 mil, ficaram por utilizar, de acordo com os dados que constam do Portal de Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Os sucessivos confinamentos e os isolamentos de 2021 afastaram muitas pessoas dos tratamentos de saúde e a medicina dentária não foi excepção. Em perspetiva, porém, para a evolução da utilização dos cheques-dentista ao longo dos últimos 13 anos, Miguel Pavão, bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, não tem dúvidas: “A taxa de utilização é muito baixa e tem-se agrava- do nos últimos anos, o que demonstra que este projecto, que na altura foi muito inovador, se tem vindo a desvirtuar, que não evoluiu.”

Para ilustrar a tese de que em Portugal “não há muito interesse em investir na saúde oral”, Miguel Pavão recorda que o valor do cheque-dentista foi reduzido de 40 para 35 euros no tempo da troika e que não foi alterado desde então, nem mesmo durante a pandemia, apesar da despesa adicional com equipamentos de protecção individual. “Não se reflectiu sobre o modelo do cheque-dentista, não se avaliou, não se parou para pensar”, lamenta.

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