Março arrancou com mais um webinar organizado pela OMD. Nesta sessão, Mariano Sanz foi o orador convidado para falar sobre “Doença por coronavírus: Implicações nos cuidados periodontais?”. O professor e conferencista internacional abordou a associação entre a periodontite e a possibilidade de um aumento de complicações graves, no contexto da COVID-19.

O seminário online iniciou com uma explicação sobre o vírus, a forma como este se transmite, quais os sintomas e como se comporta. O orador explicou também como a cavidade oral pode ser importante enquanto ‘porta de entrada’ do vírus no organismo. Aproveitou para lembrar que as taxas de mortalidade pela SARS-CoV-2 aumentam com a idade e as comorbilidades, nomeadamente a obesidade e a hipertensão, que são dois fatores associados em muitos estudos epidemiológicos com as periodontites.

A apresentação procurou responder a quatro questões:

  1. “A cavidade oral é relevante na transmissão e patogenicidade do vírus?
  2. Os antisséticos de uso oral que usamos para tratamento de periodontites podem diminuir a transmissão e patogenicidade do vírus?
  3. Podemos usar a saliva para testes de diagnóstico?
  4. A periodontite pode influenciar a progressão da COVID-19?”

Mariano Sanz esclareceu detalhadamente cada ponto e deu maior ênfase ao último, em que esclareceu como as bactérias bucais passam para a corrente sanguínea e proliferam. Explicou que o estudo desta relação foi feito através do uso dos mecanismos conhecidos de associação de periodontites com outras enfermidades sistémicas. O orador abordou, por exemplo, como níveis elevados de marcadores inflamatórios no sangue estão relacionados com desfechos mais graves causados pelo vírus e como a aspiração de bactérias periodontopáticas pode contribuir para a deterioração do estado de saúde do paciente infetado com COVID-19.

 
O ex-decano da Universidade Complutense de Madrid destacou também um estudo no qual participou, que descreve a relação entre doentes com periodontite avançada e o risco acrescido de complicações graves e de morte em caso de infeção por COVID-19. O artigo, intitulado “Association between periodontitis and severity of COVID-19 infection: a case-control study”, foi publicado em janeiro de 2021 no Journal of Clinical Periodontology.

A sessão foi muito participada, na qual Mariano Sanz respondeu às diversas perguntas e dúvidas colocadas pelos médicos dentistas. Por exemplo, questionado quanto às razões das baixas taxas de infeção por COVID-19 registadas entre os médicos dentistas, o orador considerou que a classe foi, “antes da pandemia, a profissão médica com maior rigor nas medidas de proteção de infeções cruzadas”. Na opinião de Mariano Sanz, tal está relacionado com a aprendizagem adquirida nos anos 80, com as consequências do VIH. “A partir daí, a prática da prevenção contra as infeções cruzadas tem sido o padrão absoluto no nosso desempenho”, constatou. A estas medidas, juntam-se os protocolos implementados durante a pandemia e que “excedem em muito” o que é praticado nas consultas dos cuidados primários, tanto em Espanha, como em Portugal.

Por outro lado, notou que o estudo apresentado durante o webinar mostra que “não existe saúde geral sem saúde periodontal”. Por isso, em jeito de conclusão, lembrou que existe “uma lacuna entre as necessidades de tratamento e as possibilidades que a população tem de tratar”, referindo-se à importância de os sistemas de saúde passarem a dar maior relevo ao tratamento da periodontite.