Existem “milhões de portugueses desdentados, com mais de metade das pessoas acima dos 65 anos sem um único dente”, alertou o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Orlando Monteiro da Silva, numa entrevista ao semanário Expresso (pdf). Esta é uma das consequências da inexistência de um serviço de medicina dentária no sistema de Saúde público.

O jornal relembra que, por exemplo, quem se desloca à urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com problemas de saúde oral é aconselhado a dirigir-se ao médico dentista privado e recebe apenas tratamento para alívio da dor ou infeção. “Quem não pode pagar fica totalmente desacompanhado”, explica Orlando Monteiro da Silva, uma vez que são raros os médicos dentistas a exercer nos centros de saúde e estabelecimentos hospitalares. O Expresso questionou a Administração Regional de Saúde e dá como exemplo a região do Algarve, em que “existe apenas um [profissional], em Faro”.

O programa cheque-dentista trouxe cuidados pagos pelo Estado a grávidas, crianças e jovens, idosos desfavorecidos e portadores de VIH, pelo que permitiu minimizar o impacto da quase inexistência de cuidados de saúde oral no SNS.

Três milhões de pessoas foram integradas no programa, que tem a adesão de mais de três mil médicos dentistas e um investimento anual de 18 milhões de euros. Contudo, “não é acessível a todos”. “É preciso incluir diabéticos, urgências e mais crianças e jovens”, prossegue Orlando Monteiro da Silva.

Para o bastonário da OMD, o programa será apenas parte da solução, pois “Portugal tem cinco a seis mil consultórios e cerca de 8800 médicos dentistas ativos, pelo que não é por falta de recursos que o problema não se resolve”. E aponta o bom exemplo dos Açores e Madeira, onde há contratações de médicos dentistas para o SNS e um sistema de convenções com os privados. Propostas que a OMD tem apresentado aos sucessivos governos.