A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) exige um maior controlo na comercialização de cigarros eletrónicos e a proibição de qualquer tipo de publicidade, incluindo publicidade encapotada nas redes sociais.

O bastonário da OMD, Orlando Monteiro da Silva, denuncia ”a falta de regulação sobre estes cigarros eletrónicos, que não permite saber qual a composição dos líquidos, que é diversa e muito variada. Sabe-se que contém substâncias como propilenoglicol, glicerina e, claro, nicotina, e já foram detetados carcinógenos, como aldeídos, carbonatos e metais pesados”.

Orlando Monteiro da Silva considera que “a população não está suficientemente alertada para os riscos dos cigarros eletrónicos, apresentados pelas tabaqueiras como sendo de menor risco que o cigarro tradicional. O menor risco, que ainda não está sequer provado que assim seja, não significa que estes cigarros eletrónicos sejam inócuos para a saúde, muito pelo contrário. A nicotina é inalada e os estudos científicos que existem sobre o consumo destes cigarros eletrónicos mostram que os seus consumidores têm maior probabilidade de presentar xerostomia (boca seca), estomatite, língua pilosa ou queilite angular. O consumo destes cigarros eletrónicos contribui ainda para a progressão da doença periodontal (da gengiva)”.

A OMD pede especial atenção das autoridades porque Portugal é, segundo dados do Eurobarómetro, o país da União Europeia onde menos fumadores querem deixar de fumar e deixam efetivamente de fumar, e um dos países onde os jovens começam a fumar mais cedo.

Diversos estudos mostram que os adolescentes e os jovens adultos procuram este tipo de cigarros porque consideram que são menos prejudiciais para a saúde do que o tabaco tradicional. Pelo que, considera Otília Lopes, membro do Conselho Geral da OMD, “os e-cigarros são um desafio para o médico dentista quando aconselha e discute com os seus pacientes sobre os efeitos do tabaco e sobre a cessação tabágica”, uma vez que há “falta de informação sistematizada e clara sobre os efeitos prejudiciais” (ver testemunho – PDF).

Partindo de estudos sobre o tema, a representante da OMD no Grupo Técnico Consultivo do Tabaco da DGS, Marta Resende, lembra que “dado serem sistemas ainda muito recentes, ainda não existem estudos suficientes, independentes e a longo prazo, sobre os seus efeitos na saúde sistémica e oral em particular e portanto sobre a segurança da sua utilização”, lembrando, “no entanto”, que “existe já plausibilidade biológica para o maleficio sistémico e oral destes dispositivos” (ver testemunho – PDF).

Eunice Virgínia Carrilho, membro do Conselho Diretivo da OMD, recorre a uma revisão sistemática para explicar que “existe uma maior suscetibilidade dos fumadores de cigarro eletrónico para desenvolverem alterações nos tecidos biológicos orais quando comparados com ex-fumadores ou não-fumadores” (ver testemunho – PDF).

A pressão publicitária contribui para a noção errada de que estes produtos estão quase isentos de risco. Ainda recentemente, refere o bastonário da OMD, “a Phillip Morris, a maior empresa de tabaco do mundo, recorreu a vários ‘influencers’ digitais, em vários pontos do mundo, para publicitar os seus cigarros eletrónicos, pretendendo dar uma imagem glamour e de alta tecnologia, dando a entender enganadoramente que é possível a inalação de nicotina limpa de substâncias adversas.”

No caso da saúde oral, o consumo de tabaco, seja ele qual for, é altamente prejudicial para os tecidos moles e duros da boca e é um fator de risco ou contributivo para doenças de natureza inflamatória, infeciosa, degenerativa e neoplásica, como são exemplo, a doença periodontal, a perda dentária, as complicações pós-cirúrgicas, os insucessos com implantes dentários, lesões potencialmente malignas ou o cancro oral, um dos mais mortíferos em Portugal.