Joana Faria Marques

Assistimos atualmente a uma mudança de paradigma na medicina assente no conceito de prevenção da doença e adaptável às características individuais do doente – medicina de precisão. Nesse enquadramento, os métodos de diagnóstico precoce e não invasivo e de avaliação de risco individual assumem particular relevo.

Na medicina dentária, a saliva é muitas vezes considerada de forma redutora enquanto elemento dificultador da realização técnica de procedimentos terapêuticos. Contudo, a saliva/fluido oral enquanto fluido de diagnóstico possui um enorme potencial na compreensão dos processos etiopatogénicos das doenças orais. A sua colheita, simples e não invasiva, posiciona-a como ferramenta de avaliação do estado de saúde oral e risco individual para doença e de definição de estratégias preventivas e terapêuticas personalizadas, que irão revolucionar a forma atual de prática clínica. 

Mais de 5000 proteínas foram já identificadas na saliva, muitas das quais com potencial valor enquanto biomarcadores discriminatórios de doença oral, como a cárie, doença periodontal ou cancro oral. Perspetiva-se que o crescimento exponencial do conhecimento relativo ao proteoma, metaboloma, microbioma e estudo de exossomas salivares amplie este potencial, sendo necessária a validação clínica da sua eficácia enquanto testes de diagnóstico.
Nesta conferência, serão abordados os avanços no conhecimento de potenciais biomarcadores salivares de doença oral, o desenvolvimento de testes de diagnóstico aplicáveis em consultório (chairside), considerando uma visão crítica das suas potencialidades, limitações e perspetivas futuras.