As ordens profissionais da Saúde enviaram hoje ao primeiro-ministro um conjunto de propostas para melhorar o contexto atual da Saúde Humana, Animal e Ambiental, apontando como prioridades a prevenção da doença, os profissionais de saúde e os cuidados primários.

Na missiva enviada a Luís Montenegro no Dia Mundial da Saúde, numa iniciativa inédita, as nove ordens profissionais da Saúde elaboraram um documento que resulta de uma reflexão conjunta, assente numa visão partilhada e num consenso para um futuro de “uma só saúde” (One Health) (PDF).

A promoção da saúde e a prevenção da doença, um maior investimento na literacia em saúde, em particular a saúde oral ou a valorização dos profissionais de saúde são algumas das medidas apresentadas no documento, subscrito pelas ordens dos médicos dentistas, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, veterinários, nutricionistas, fisioterapeutas e biólogos.

Miguel Pavão, bastonário da OMD, salienta que, neste Dia Mundial da Saúde, “o país nunca alcançará ganhos efetivos em saúde enquanto a saúde oral não for encarada como área fundamental nas políticas de promoção, prevenção e inovação”. “Urge literacia para a correlação das doenças orais com outras patologias, desde a diabetes, as doenças cardiovasculares ou até as patologias do sono”, realça, lembrando que uma estratégia integrada do setor só trará resultados a médio e longo prazo se incluir a saúde oral. “Estratégia essa que deve resultar de um compromisso político que não esteja dependente dos vários ciclos governativos”, frisa.

No documento, estes profissionais reconhecem e valorizam “os esforços contínuos para melhorar a Saúde e o bem-estar dos cidadãos”, mas dizem que continuam “com apreensão” a observar “problemas de organização e suborçamentação que se traduzem na manutenção de desigualdades sociais e territoriais no acesso a cuidados”.

“Os modelos de resposta são ainda burocratizados, por vezes não desmaterializados e pouco integrados, com uma força de trabalho escassa e insatisfeita, com o encerramento de serviços e tempos de espera que não garantem respostas de saúde céleres ou atempadas, e um conjunto de áreas críticas com necessidades não atendidas”, escrevem, considerado que este cenário “compromete o acesso equitativo e universal aos cuidados de saúde, apenas possível através da garantia da sustentabilidade e eficácia do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.

Os profissionais consideram também urgente transformar a promoção da saúde e a prevenção de doenças “numa prioridade estratégica máxima”, com medidas e programas específicos dirigidos à promoção de estilos de vida saudáveis e à gestão autorregulada das doenças crónicas, assim como promover a literacia em saúde, incluindo a saúde animal, com campanhas de sensibilização, envolvendo profissionais das diversas áreas.

Dotar os serviços de profissionais de saúde “em número suficiente e competente para responder com qualidade e eficácia”, desenvolvendo estratégias de atração, motivação e vinculação dos profissionais é outra das prioridades apontadas.

As ordens profissionais defendem ainda a urgência de valorizar os profissionais de saúde, promovendo a sua participação na gestão e na organização das estruturas de saúde e criando condições que facilitem a progressão na carreira e a fixação em zonas onde são mais necessários.

Pedem igualmente urgência no investimento na área da Saúde Pública, reforçando o número de profissionais nos Cuidados de Saúde Primários e a sua presença nas equipas multidisciplinares.

Pretendem ainda promover o investimento, a inovação e a investigação em Saúde, reforçar a integração da saúde com outras áreas de ação governativa, “nomeadamente considerando os impactos das questões sociais, laborais ou ambientais na saúde pública”. Desafios que abrangem igualmente a saúde oral, cuja integração no setor público está aquém das necessidades de acesso da população e cujos profissionais aguardam a criação de uma carreira há vários anos.

Finalmente, consideram urgente a integração de novas tecnologias que possam contribuir para a eficácia e eficiência do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente investindo na digitalização de processos e em soluções de Saúde Digital, assim como maiores orçamentos para os programas transversais de promoção da saúde e saúde preventiva.