O número de médicos dentistas com inscrição suspensa na Ordem bateu recordes em 2022. No total foram registados 2077 profissionais, o número mais elevado de sempre na Ordem dos Médicos Dentistas (OMD). Segundo a mais recente edição do estudo ‘Números da Ordem’, a maioria destes (53,1%) suspendeu a inscrição para trabalhar no estrangeiro.

O estudo realizado pela OMD permite concluir que a taxa de crescimento em relação a 2021 foi de 14,2%, o equivalente a mais 258 inscrições suspensas, o maior aumento desde que há registos. Só em três anos houve um aumento na ordem dos dois dígitos, ainda assim muito abaixo dos valores de 2022. A saber: 2015 (10,3%, + 102), 2016 (10,9%, +119) e 2019 (12,2%, +172).

No final de 2022, a OMD registava um total de 12 706 médicos dentistas com inscrição ativa para o exercício da profissão em Portugal, o que representa um crescimento de 3,8% (471) em relação ao valor de 2021. Em oposição, 2176 membros tinham inscrição inativa, ou seja, mais 13,7% (262) do que no ano anterior.

“Esta é a realidade da medicina dentária em Portugal. Apesar dos mais de 2000 profissionais que têm a inscrição suspensa, e dos mais de 50 por cento que decidiram trabalhar no estrangeiro, o número de médicos dentistas habilitados exercer a profissão em Portugal continua a aumentar. Isto é preocupante, pois estamos a formar profissionais cujo futuro no país é cada vez mais precário e cuja solução é sair para outras paragens”, alerta Miguel Pavão, bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas.

Outro número que demonstra o agravamento da situação da medicina dentária no país é o rácio de médicos dentistas por habitante. Portugal está, ano após ano, a afastar-se cada vez mais dos valores de referência apresentados pela Organização Mundial da Saúde (1 MD/2000 habitantes). Se, em 2019, Portugal tinha 1 médico dentista por cada 918 habitantes, no ano passado registou 1 por 814.

Das 25 regiões identificadas, apenas cinco estavam dentro dos valores considerados aceitáveis pela OMS (Oeste, Beira Baixa, Lezíria do Alentejo, Alto Alentejo e Alentejo Central) e duas tinham falta de médicos dentistas (Alentejo Litoral e Baixo Alentejo). Nas restantes, há médicos dentistas a mais, sendo a Área Metropolitana do Porto (1/576), Viseu Dão Lafões (1/624) e Região de Coimbra (1/726) as que apresentam os números mais preocupantes. Destaque para Terras de Trás-os-Montes, a única que regista evolução contrária às restantes 24 regiões: passou de 1/819 no final de 2021, para 1/845 no final de 2022.

“É um imperativo alertar os candidatos ao curso de medicina dentária para as condições que vão encontrar quando entrarem no mercado de trabalho. Com os ‘Números da Ordem’ temos assistido a um agravar continuo da situação em Portugal, razão pela qual insistimos com as várias entidades para a urgência de uma revisão das políticas de ensino e formação em Portugal”, acrescenta Miguel Pavão.

Com base nos números fornecidos pelas instituições do ensino superior, as previsões da OMD apontam para um crescimento anual de membros ativos na ordem dos 3,1%. Em 2026, existirão 14 359 médicos dentistas com inscrição ativa na Ordem, ou seja, um rácio de 1/720, fazendo com que Portugal se afaste ainda mais da cobertura recomendada pela OMS.

O estudo ‘Números da Ordem’ reúne num só documento os grandes números, estimativas e tendências da profissão. Todos os números resultam da base de dados da própria OMD, à data de 31 de dezembro de 2022. Os capítulos ‘Estudantes’ e ‘Projeções e Tendências’ resultam de informação enviada à Ordem pelas instituições de ensino superior com curso de mestrado integrado em medicina dentária.

Consulte o estudo Os Números da Ordem 2023.