A Ordem dos Médicos Dentistas lamenta profundamente a morte do comendador Rui Nabeiro, presidente e fundador do Grupo Nabeiro – Delta Cafés. Natural de Campo Maior, no Alentejo, morreu no passado domingo, 19 de março, aos 91 anos.

Oriundo de uma família humilde, Rui Nabeiro assumiu a direção da empresa Torrefação Camelo, Lda., aos 19 anos, após a morte do pai. De espírito empreendedor, criou a Delta Cafés, em 1961, que daria lugar ao Grupo Nabeiro – Delta Cafés, em 1988.

Ao longo da vida recebeu vários prémios pelo seu trabalho filantropo e empresarial. Em 1995, foi-lhe atribuído o grau de Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial – Classe Industrial, pelo Presidente da República, Mário Soares, em reconhecimento do seu mérito empresarial. Em 2006, recebeu a distinção de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e, em 2009, o grau de Honoris Causa pela Universidade de Évora. Ainda em 2009, o Rei de Espanha Juan Carlos atribui-lhe a Comenda da Ordem de Isabel a Católica. Recebeu o Doutoramento Honoris Causa em Ciências Políticas, pela Universidade Lusófona, em 2012, e mais recentemente, em 2022, o grau de doutor honoris causa na Universidade de Coimbra.

O bastonário da OMD, Miguel Pavão, lembra o “caráter humanista e generoso” de Rui Nabeiro, que foi um homem de causas sociais. Salienta ainda a “sua visão progressista da medicina dentária”, ao assegurar os cuidados de saúde oral à população de Campo Maior, demonstrando uma “grande consciência da importância da saúde oral na saúde sistémica”.

Visão progressista da medicina dentária

Rui Nabeiro nunca esqueceu as suas raízes e assumiu o papel de benfeitor da terra onde nasceu. Um dos projetos de cariz social que criou foi a associação Coração Delta. Das várias valências da organização destaca-se a vertente de promoção e apoio na área da saúde, nomeadamente a saúde oral.

A OMD conversou com o médico dentista Roberto Rauen, que recorda quando foi contactado pela primeira vez para fazer parte deste projeto. Foi há cerca de uma década e, inicialmente, destinava-se a prestar “tratamento de medicina oral e reabilitação a pacientes mais idosos”. Tratando-se de um projeto social, em que a associação identificava os pacientes que precisavam de cuidados, o médico dentista lembra que recusou a remuneração dos tratamentos, tendo por isso feito um acordo com Rui Nabeiro: “eu não cobrava pelos tratamentos” e ele “comparticipava o custo das próteses”. Com o passar do tempo, o projeto estendeu-se às pessoas da vila com carências económicas.

Apesar deste entendimento, Roberto Rauen explica que Rui Nabeiro dava muitas vezes “a volta às situações” para não sobrecarrega-lo financeiramente. Encaminhava pacientes que “dizia que não pertenciam nem à associação Tempo para Dar, nem ao Coração Delta” e cujos tratamentos (prestados a um custo inferior) eram suportados por ele. “Ele de alguma maneira tentava ajudar todas as pessoas”, conta.

Do comendador, o médico dentista recorda a figura “perseverante”, “humanitária”, que “acreditava na dignidade do ser humano”. “Havia dois fatores que para mim foram muito marcantes: valorização da amizade, do respeito genuíno ao próximo e das suas necessidades”, revela. Rui Nabeiro era uma pessoa “muito ativa sobre o ponto de vista humanitário, acredito como maneira de resposta ao sucesso que teve”.

Quanto ao legado deixado pelo comendador, Roberto Rauen refere que “a alma de um projeto permanece e temos que dar continuidade”. “Se cada um fizer um pouquinho, vamos conseguir modificar a nossa comunidade para o bem e todos vão ter condições de melhorar”, conclui.