A sétima edição do Barómetro da Saúde Oral da Ordem dos Médicos Dentistas, mais uma vez, traça-nos o retrato da realidade portuguesa, relacionada com a oferta de cuidados de saúde dentários. Enquanto algumas tendências se vêm mantendo desde as últimas edições, há algumas evoluções a destacar.

Relativamente à dentição, os dados não apresentam diferenças significativas face às edições anteriores, com apenas 32,3% dos portugueses a terem a dentição completa. Por sua vez, a percentagem de portugueses com falta de 6 ou mais dentes naturais, excetuando os dentes do siso, situa-se nos 28,5%, o que representa uma ligeira melhoria de 1 ponto percentual face a 2021, mantendo a tendência positiva que já se verifica desde 2018.

A percentagem de portugueses com falta de dentes que não têm nada a substituí-los também melhorou, tendo reduzido para 48,1% – aquele que é o melhor valor registado desde a primeira edição do Barómetro.

Entre os portugueses que têm falta de 6 ou mais dentes naturais, considerado o valor de referência para afetação da qualidade da mastigação e, concomitantemente, da sua saúde oral, 18,9% não têm substitutos (-3,1 p.p. face à edição de 2021). Esta evolução continua a ser positiva e de salientar, com uma redução significativa num curto espaço de tempo – em 2017 era praticamente o dobro da percentagem (36,6%).

Em termos dos hábitos de higiene oral dos portugueses verifica-se que a tendência se mantém: melhorou o nível do hábito de usar fio dentário e elixir, mas reduziu mais uma vez a percentagem de portugueses que escova os dentes pelo menos duas vezes ao dia.

Relativamente aos hábitos de visita ao médico dentista, apenas 67,4% dos portugueses o fazem pelo menos uma vez por ano. Ainda assim, a evolução é de assinalar, representando cerca de 9 pontos percentuais a mais, quando comparado com 2019, último ano pré-pandémico, e uma melhoria de quase 15 pontos percentuais face à primeira edição do Barómetro, em 2014. Ademais, nesta edição, 68,5% referem que visitaram o médico dentista no último ano, uma melhoria de 9,1 pontos percentuais, quando comparado com 2021, e um valor que, inclusive, supera os dados pré-COVID.

Os portugueses aparentam, assim, estar mais cientes da importância da ida ao médico dentista, tendo havido igualmente uma redução de 20,1 pontos percentuais na percentagem de indivíduos que afirma não ter necessidade de ir. Dados que indicam que é necessário fazer um longo percurso em matéria de literacia e perceção para a saúde oral e para a sua importância na saúde sistémica. Por sua vez, o número de portugueses que indica não ter dinheiro para tal aumentou 7,4 pontos percentuais, notando-se já aqui os efeitos da crise atual.

Quando questionados acerca das intenções de tratamentos, também se estima um aumento da procura, com o número de indivíduos que não tenciona fazer nada a reduzir, tendo alcançado o valor mais baixo das últimas edições do Barómetro.

Entre os menores de 6 anos, 65,2% nunca visitaram o médico dentista, sendo que este valor é inferior ao verificado nas duas últimas edições do Barómetro. Ainda acerca dos menores de idade, é possível verificar que 51,8% utilizam o cheque dentista quando recorrem a uma consulta, menos 8,5 pontos percentuais do que o verificado na edição de 2021. A redução nota-se sobretudo junto das crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos.

No geral, os portugueses continuam satisfeitos com os seus médicos dentistas (94,5%), sendo que nos casos de insatisfação, os principais motivos são os preços praticados (59,3%) e os resultados dos tratamentos (41,6%).

Para além dos preços, os aspetos mais valorizados aquando de uma visita ao médico dentista são a confiança no mesmo, os resultados dos tratamentos e a higiene e limpeza. Já os aspetos menos valorizados são o género do médico dentista e a idade. Em comparação com os resultados da última edição do Barómetro, a importância dada aos fatores apresentados reduziu sensivelmente, mas mantiveram-se as prioridades.

Atualmente, 55,9% da população portuguesa não sabe que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) disponibiliza a área de medicina dentária e apesar deste valor ter vindo a reduzir consecutivamente desde 2017, nesta edição a tendência inverteu-se. Em acréscimo, ainda que 44,1% dos portugueses tenham conhecimento, isso não se reflete na utilização do SNS para tratar de problemas de saúde oral.

Entre quem sabe, apenas 6,9% recorreu ao SNS nos últimos 12 meses para medicina dentária, sendo que quem utiliza são, sem surpresa, sobretudo os indivíduos de classes socais mais baixas. Um terço indica que se não tivesse sido atendido no SNS não teria recorrido ao privado por motivos económicos e apenas 39,5% consideram realizar tratamentos complementares no setor privado.

A importância do acesso a serviços de medicina dentária no SNS e da comparticipação do Estado nas consultas do setor privado é assim ilustrada, sendo reconhecida pelos portugueses. É, no entanto, pertinente realçar que a importância dada reduziu desde a última edição do Barómetro.

Consulte o Barómetro da Saúde Oral 2022 na integra.

Nota metodológica: Para a realização do Barómetro da Saúde Oral foram realizadas 1102 entrevistas em Portugal, incluindo Regiões Autónomas, a homens e mulheres com 15 anos ou mais. A margem de erro numa amostra completamente aleatória para um intervalo de 95% é de 2,95%.