A 16 de outubro assinalou-se o Dia Mundial da Alimentação. Dias antes, o Instituto Nacional de Estatística divulgou a Balança Alimentar Portuguesa (BAP) 2016-2020 (pdf) e as conclusões são preocupantes.

A BAP mostra que a disponibilidade energética diária média disponível, por habitante, é de 4075 kcal (na BAP 2012-2015, este valor era 3954 kcal), considerando o total de produtos alimentares e de bebidas disponíveis para consumo. Carne, pescado e ovos são o grupo que regista um maior consumo acima do recomendado pela Roda dos Alimentos. Contudo, também o consumo diário de café, cacau e chocolate tem vindo a subir na última década, com uma média de 25,8 gramas diárias por habitante.

A BAP apresenta-se como um quadro informativo sobre o padrão de abastecimento alimentar do país. Em relação à contribuição dos açúcares numa alimentação saudável, e considerando os adicionados e os naturais (presentes nos alimentos), em 2020, verificou-se um aporte calórico de 178,6 g das disponibilidades alimentares, um valor muito acima dos 90 g do valor de referência indicado para uma dieta de 2000 kcal/hab.

As repercussões para a saúde são amplamente conhecidas e há muito que a OMD alerta para o facto de hábitos alimentares inadequados, como a ingestão excessiva de açúcar simples ou adicionados, e promovidos pela indústria alimentar, constituírem um dos principais fatores de risco para as cáries dentárias, que é uma das doenças não transmissíveis mais prevalentes a nível mundial.

‘Guerra’ ao sal e açúcar

No início do ano, a Direção-Geral da Saúde lançou um manual sobre alimentação saudável nos cuidados de saúde primários e, mais recentemente, em parceria com a Direção-Geral da Saúde, estabeleceu um conjunto de normas direcionadas para as escolas.

Em abril, aquando o regresso às aulas presenciais dos 2º e 3º ciclos, a DGS apresentou um manual para lanches saudáveis, no qual dava destaque ao consumo de água e a uma alimentação que privilegiasse em pequenas quantidades, e sem adição de sal, os produtos lácteos, cereais, pão, fruta e hortícolas. Na ocasião, à Lusa, a responsável pelo pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS, Maria João Gregório reconhecia que “a pandemia provavelmente veio colocar grandes desafios e pode, de facto, estar a pôr em causa os progressos que estávamos a conseguir obter ao nível da prevalência da obesidade infantil”.

Recentemente, o organismo foi mais além e emitiu um despacho, onde estabelece as normas a ter em conta na elaboração das ementas e na venda de géneros alimentícios nos bufetes e nas máquinas de venda automática nos estabelecimentos de educação e de ensino da rede pública do Ministério da Educação.

Assim, as escolas não podem vender “produtos prejudiciais à saúde”, como pastelaria, salgados, vários tipos de bolachas e biscoitos, refrigerantes, snacks doces e salgados, chocolates, “guloseimas” (designadamente rebuçados, caramelos, pastilhas elásticas com açúcar, chupas ou gomas), entre outros produtos.

No caso dos estabelecimentos de saúde, nomeadamente os cuidados de saúde primários, a ação da DGS visa tornar universal a promoção da alimentação saudável e melhorar os procedimentos e a intervenção integrada dos diferentes profissionais de saúde.

O manual “Aconselhamento breve para a alimentação saudável” é direcionado para os profissionais de saúde e é um guia de referência com várias ferramentas para uma abordagem mais eficaz da promoção da alimentação saudável, prevenção e controlo de doenças crónicas. A DGS entende que um aconselhamento sobre esta matéria nos cuidados primários e identificação precoce de pacientes que necessitem de referenciação para os Cuidados Personalizados de Nutrição são uma mais-valia na prevenção dos fatores de risco, que contribuem para a perda de anos de vida saudável e para a mortalidade.