Pedro Morgado, membro da direção do Colégio de Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, apresentou na passada quarta-feira um estudo sobre os efeitos da pandemia na saúde mental dos portugueses. No webinar “Impacto da COVID-19 na Saúde Mental”, o médico psiquiatra envolveu os participantes numa reflexão sobre as situações que se vivem atualmente e sobre os vários tipos de consequências que o vírus trouxe para a saúde física, económica e mental da sociedade.

 

E foi este último ponto que serviu de ponto de partida para um estudo realizado pela instituição onde leciona, a Universidade do Minho, com o objetivo de perceber o alcance da pandemia na parte psicológica da população.

O orador lembrou que, por exemplo no caso da medicina dentária, o impacto do encerramento das clínicas e consultórios de medicina dentária refletiu-se não só nos indicadores de saúde oral, mas também posteriormente na organização do trabalho e nos problemas económico-sociais.

A pesquisa realizada pela Escola de Medicina de Universidade do Minho arrancou no início da primeira vaga da pandemia e tem permitido compreender melhor como o ser humano se está a adaptar à nova realidade. “O que [os investigadores] viram ao longo das semanas é que em geral as pessoas adaptaram-se”, explica, notando que houve uma “diminuição dos indicadores de stress, depressão e ansiedade”. Embora, por outro lado, se tenha verificado uma deterioração da perceção da qualidade de vida e dos níveis de sono, que têm vindo a diminuir ao longo do tempo.

Por outro lado, constatou-se que os médicos apresentam níveis mais elevados de ansiedade, stress, depressão e sintomas obsessivo-compulsivos do que o resto da população. E que estar na linha da frente do combate à COVID-19 era um dos fatores de vulnerabilidade.

O que nos protege?

Pedro Morgado explicou na sessão que quando se está a experienciar “muito sofrimento” e “muita disfuncionalidade”, está-se perante os dois ingredientes que indicam que é necessário procurar ajuda.
Daí que, no webinar, tenha salientado a importância não só do investimento em políticas nesta área, mas também do trabalho individual de cada pessoa em matéria de automonitorização da sua saúde mental e autogestão emocional. Para tal, apresentou uma “lista” de estratégias que “nos protegem”:

  • Manter uma rotina;
  • Alimentação equilibrada;
  • Evitar tabaco, álcool e outras drogas (nomeadamente ansiolíticos, usados pelos profissionais de saúde para “regular emoções e diminuir ansiedade”);
  • Limitar o consumo de notícias e redes sociais;
  • Manter-se ligado à família e amigos;
  • Trabalhar é bom;
  • Trabalhar em casa pode ser muito bom;
  • Futuro será ainda mais digital;
  • Colocar em perspetiva, aceitar a incerteza;
  • Prestar atenção e partilhar histórias positivas;
  • Prestar mais atenção a quem precisa;
  • Descobrir atividades novas;
  • Evitar o isolamento.

Os interessados em avaliar a sua saúde mental podem também recorrer à plataforma sugerida pelo orador: saudemental.p5.pt.