Paulo Canedo, diretor executivo do Ipatimup, abriu o ciclo de webinars que a OMD vai organizar no decurso deste ano. O tema foi a vacinação contra a COVID-19, que arrancou a 27 de dezembro do ano passado e cujo processo ainda suscita muitas dúvidas entre a população.

O orador começou por explicar como funciona a criação de uma vacina e quais os motivos que contribuíram para acelerar as quatro fases necessárias para a sua administração.

Sob o mote “As vacinas contra a COVID-19 e a descoberta de um novo paradigma”, Paulo Canedo apresentou a timeline de desenvolvimento de qualquer tipo de vacina e a amostra de voluntários necessária para cada momento. “Estas etapas foram todas cumpridas”, salientou, sendo que, neste caso particular, surgiram três componentes que tornaram tudo mais rápido: a burocracia foi agilizada, o manancial quase infinito de voluntários (por exemplo, a fase 3 requer mais de 1000 voluntários e tanto a vacina da Pfizer, como a da Modena, tiveram mais 30 mil voluntários) e a sobreposição de fases, isto é, “a partir do momento em que os resultados foram saindo e fossem estatisticamente significativos, havia autorização para a fase seguinte”.

 

Outra questão que tem sido muito comentada é o mito do RNA. Paulo Canedo indicou que existem quatro tipos de vacinas e que as duas entretanto aprovadas estão no grupo de RNA. No entanto, desmistificou, “não há hipótese de haver incorporação deste material genético no nosso genoma”.

Quanto aos efeitos secundários, esclareceu que as reações alérgicas são raríssimas e que, a partir da segunda dose, os sintomas mais frequentes são febre, dores musculares e dores de cabeça.

Fundamental manter cuidados

Uma das principais mensagens transmitidas pelo orador durante o seminário online foi que é importante continuar com todos os cuidados preventivos, pelo que no caso da medicina dentária, além de todas as regras simples de higienização e distanciamento, o uso dos EPI (Equipamentos de Proteção Individual) é imprescindível.

Isto porque desde que a vacina “é administrada até ser eficiente decorrem alguns dias”, em média duas semanas. Além do mais, ainda vai demorar vacinar toda a população, para que se alcance eficácia. E este é, na opinião de Paulo Canedo, um dos desafios do processo. Mas há mais. Desde logo, a logística de conservação e transporte das vacinas e sua disponibilidade. Fatores que contribuem para que a vacinação global seja um longo caminho. Depois, o aparecimento de novas variantes do vírus, para as quais ainda não há resposta e que terão que ser monitorizadas à medida que vão surgindo. Sabe-se para já que “a vacina é eficaz nesta nova variante do Reino Unido”. À partida também será no caso das novas estirpes brasileira e africana.

Paulo Canedo deixou cinco “key messages” para os próximos tempos:

  1. À luz de tudo o que é conhecido, as vacinas são seguras”;
  2. As vacinas contra a COVID-19 têm uma taxa de eficiência superior a 90%, “o que é muito bom para uma vacina”;
  3. As vacinas têm contribuído para aumentar a esperança média de vida das populações;
  4. O caminho a seguir na pandemia passa por vacinar o maior número de pessoas, mas não se podem descurar os cuidados preventivos. No caso da medicina dentária, os “EPI são fundamentais”. “Os profissionais de saúde não podem relaxar”, “devem dar o exemplo”;
  5. É importante gerir expectativas, uma vez que a distribuição das vacinas será faseada. “Não vai ser possível, mesmo ao primeiro grupo, distribuir as vacinas com a velocidade que queremos”.

No final da sessão, o orador respondeu às muitas dúvidas e perguntas colocadas pela audiência, na sua maioria relacionadas com a vacinação em indivíduos com comorbilidades, efeitos secundários, reações alérgicas, imunidade, dosagens, variantes do vírus, entre outras.

Paulo Canedo partilhou no webinar o endereço eletrónico da página da Organização Mundial da Saúde dedicada à vacinação contra a COVID-19 (site externo). Aqui é possível aceder aos dados dos ensaios que estão a decorrer e conhecer todos os tipos de vacinas que estão em desenvolvimento. A informação é atualizada duas vezes por semana.