Vivemos numa sociedade, numa economia, liberalizada, aberta e inserida num contexto europeu de livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais.

As regras essenciais desta sociedade em que vivemos, na sua grande maioria, são decididas ao nível europeu pelos diversos estados membros.

A medicina dentária não podia ser uma ilha, e não vive, como sabemos, numa redoma relativamente a esta matéria.

Podemos estar de acordo, ou não, com esta realidade. Sobretudo, temos que saber influenciar e conduzir a agenda europeia no melhor interesse de Portugal e dos seus profissionais. Quanto mais participado for o processo, mais positivo e envolvente será.

A lamúria, o queixume e a maledicência sistemática não são vias alternativas.

A propósito destas liberdades, Portugal tornou-se uma referência pela formação dos médicos dentistas, reconhecida nos países onde exercem e também ao nível científico, com um conjunto de palestrantes e investigadores de crescente visibilidade internacional que a todos nos orgulham. Daí que sobre a livre circulação de pessoas e de serviços, ou seja dos nossos médicos dentistas na UE, diga-se que aproveitamos mais a mobilidade em benefício próprio, dos nossos colegas, que o contrário.

Reconhecendo que face à atual procura de cuidados de saúde oral existe um nítido excesso de profissionais, um desequilíbrio que se reflete nas condições de exercício oferecidas pelo mercado aos nossos colegas, a Ordem dos Médicos Dentistas tem proposto ou apoiado três ideias, três linhas possíveis, exequíveis e realistas de atuação:

  1. Revelar à sociedade informação sustentada sobre o estado atual da profissão e sobre a empregabilidade no setor, forçando a tónica no excesso de oferta.
  2. Reforçar a recomendação na aposta do ensino superior da medicina dentária, na atração de estudantes de países da UE que vão regressar aos seus países de origem, ou seja, apostar na exportação de saber por parte das universidades, não apenas privadas, mas também públicas;
  3. Fomentar a transformação das necessidades sentidas em procura de cuidados de saúde oral, diminuindo a percentagem da população que não acede ao médico dentista, atualmente cerca de 35%.

E por último, o caminho fundamental de continuar a fazer ouvir a voz da profissão ao nível europeu. Participar, intervir, influenciar.

Como temos insistentemente defendido, nenhuma ordem ou associação profissional é suficientemente forte para se fazer ouvir de forma eficaz ao nível das instituições comunitárias. A procura de visões comuns, a construção de coligações positivas com países com problemas idênticos, a soma produtiva de esforços organizados é fundamental.

Daí que o nosso envolvimento e empenho na FEDCAR (Federação Europeia de Autoridades Competentes e Reguladores da medicina dentária – http://fedcar.eu), com as ordens, reguladores dos profissionais como entidades competentes dos diversos países do Espaço Europeu, seja fundamental. Para que a posição de todos seja devidamente considerada, para que a posição dos médicos dentistas portugueses seja devidamente defendida. Estamos certos de que esse é o caminho. Nisso investimos, nisso nos empenhamos.

A presidência da FEDCAR, que agora iremos exercer, vai com toda a certeza reforçar a posição da Ordem dos Médicos Dentistas e fazer ouvir mais alto os desafios da medicina dentária portuguesa no contexto europeu.

As pessoas que integram e integraram as sucessivas equipas da OMD, nas quais convicta- mente me incluo, nunca embarcaram na promoção de ilusões ou quimeras, mais ou menos quixotescas e muito menos da tentação da permanência numa bolha que navega no passado. Do passado tirámos ensinamentos que nos ajudarão, passo a passo, a alicerçar melhor o futuro.

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