Helena Pinto Ferreira

Controlo da dor em medicina dentária – perspetiva homeopática

Assistente Graduada de Medicina Geral e Familiar e Competência em Acupunctura Médica pela Ordem dos Médcos

Avaliadora clínica do Infarmed dos Medicamentos Homeopáticos e Medicamentos Tradicionais à base de Plantas.

Membro do HMPC (Herbal Medicinal Products Committee) da EMA (European Medicines Agency).

Membro “alternate” do HMPWG (Homeopathic Medicinal Products Working Group).

Membro da Comissão da Farmacopeia Portuguesa.

Coordenação do curso pós-graduado de Acupunctura Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Presidente da SPMA (Sociedade Portuguesa Médica de Acupunctura) e do ICMART (International Council of Medical Acupuncture and Related Techniques).

Nacionalidade: Portugal

Área científica: Saúde oral, saúde em geral

2013/11/23 11:00 – 2013/11/23 12:00 | Auditório VIII

Resumo da apresentação

O princípio terapêutico mais importante do modelo homeopático é a chamada “Similitude” que tem como objetivo o desencadear de uma reação do organismo contra os sintomas da doença, utilizando substancias diluídas que ao serem experimentadas em pessoas saudáveis, promoveram o aparecimento de sintomas semelhantes aos encontrados nos indivíduos doentes. Sistematizado por um médico alemão no final do século XVIII através de inúmeras experimentações, este efeito tinha sido já mencionado por Hipócrates.

Estando a ciência médica atual mais baseada num modelo farmacológico dose-dependente, é difícil para muitos aceitar que substâncias em muito baixas concentrações, para além do nº de Avogadro, possam desencadear qualquer resposta biológica.

No entanto, vários modelos experimentais “in vitro” e “in vivo” têm demonstrado o efeito de substâncias diluídas e dinamizadas (sujeitas a um processo de agitação próprio), apontando os ensaios clínicos para um efeito positivo diferente do placebo.

Foram adotadas Diretivas Europeias que regulamentam os medicamentos homeopáticos, transpostas para a legislação nacional através do Estatuto do Medicamento (Decreto-Lei 176/2006, atualizado pelo Decreto-Lei n.º 128/2013), tendo a Farmacopeia Europeia organizado um grupo de trabalho dedicado a esta área. A Comissão Europeia integrou projetos de investigação nos seus programas quadro. Os medicamentos homeopáticos são, portanto, sujeitos a uma avaliação e autorização pelo Infarmed.

Na área da dor orofacial, a utilização dos medicamentos homeopáticos pode ser efetuada de forma complementar, sendo uma terapêutica especialmente dirigida a doentes com incapacidade em utilizar a medicação standard, por risco de interação medicamentosa, reação alérgica, por efeitos adversos, na gravidez ou até por escolha individual, dado ser praticamente isenta de riscos.

Não há ainda muitos ensaios clínicos na sintomatologia dolorosa orofacial, tendo surgido resultados interessantes em estudos com alguns doentes, na proteção e recuperação de lesões pós radioterapia de carcinomas da região da face e na diminuição de efeitos adversos da quimioterapia, como nos casos de estomatites. A sua utilização nas patologias estomatológicas provém especialmente da experiência clínica ao longo dos anos. No sentido da proteção do doente e utilização segura desta terapêutica, ela deve ser prescrita por um profissional habilitado a efetuar o diagnóstico da situação clínica, de forma a ter a capacidade de escolha da melhor terapêutica a administrar. A falta de “standards” profissionais e de limites de competência dos praticantes não médicos, pode colocar os doentes em risco, pela incapacidade diagnóstica, podendo atrasar tratamentos mais eficazes.

Atendendo á popularidade crescente das terapêuticas complementares, ou não convencionais, no seio da Comissão Europeia há uma crescente noção de que a população deve ter a capacidade em optar por escolhas informadas acerca da sua saúde e respetivos tratamentos, tendo os cidadãos direito a recorrer a cuidados de saúde de alta qualidade, seguros e acessíveis, independentemente de quem são, onde vivem e quanto ganham. Para além disto, o investimento em sistemas de saúde sustentáveis é também uma preocupação crescente, com necessidade de melhoria no custo-eficiência e um melhor uso dos recursos disponíveis.

Dentro deste espírito têm sido realizados alguns estudos de custo-eficácia em alguns países da UE nas áreas das terapêuticas complementares, concluindo que os custos anuais em despesas do seguro de saúde obrigatório de médicos qualificados em alguma destas disciplinas, são inferiores aos dos que só utilizam cuidados convencionais e os seus doentes vivem mais tempo.

O facto da abordagem da homeopatia ainda ter um grande caminho a percorrer, por ter estado afastada dos meios académicos e ser praticada em muitos casos por profissionais pouco habilitados, não deve influenciar negativamente as decisões quanto à sua validade. Antes pelo contrário, deve ser estimulada a curiosidade científica quanto a novos velhos conceitos e as autoridades competentes devem procurar estabelecer os critérios adequados quanto à competência necessária para a praticar.