Daniele Manfredini

Disfunção temporomandibular e ortodontia

  • Licenciatura em Medicina Dentária na Universidade de Pisa, Itália, em 1999, Mestrado em Oclusão e Desordens Crânio-Mandibulares, em 2001, da mesma universidade, Doutoramento em Medicina Dentária na ACTA, Amesterdão, Países Baixos, em 2011, e Pós-Graduação Especialização em Ortodontia na Universidade de Ferrara, Itália, em 2017.
  • Alcançou o Diplomate Status do American Board of Orofacial Pain em 2021.
  • É um membro ativo da Academia Europeia de Disfunção e Dor Orofacial (ex EACD) e Fellow da Academia Americana de Dor Orofacial.
  • É membro fundador da Sociedade Italiana de Prostodontia e Reabilitação Oral (SIPRO) e presidente do Grupo de Estudo Italiano da Dor Orofacial (GSID).
  • Foi “clinical fellow” na Secção de Dentisteria Protética, Departamento de Neurociências, Universidade de Pisa, Itália, até 2005.
  • De 2006 a 2016, Daniele Manfredini foi Professor Auxiliar na Faculdade de Medicina Dentária e coordenador de projetos de investigação na Clínica TMD, Departamento da Cirurgia Maxilofacial, Universidade de Pádova, Itália.
  • Em janeiro de 2017, o ministro italiano da Universidade e Investigação (MIUR) nomeou-o Professor Catedrático por mérito científico aos 41 anos.
  • Desde 2017, Daniel Manfredini trabalha como Professor na Faculdade de Medicina Dentária, Universidade de Siena, Itália, onde leciona Fisiologia Oral e Gnatologia Clínica.
  • Daniele Manfredini foi autor de mais de 240 artigos na área de bruxismo e desordens temporomandibulares em revistas indexadas na base de dados Medline (Scopus H-index=50). Também editou, entre outros, o livro “Current concepts on temporomandibular disorders” (Quintessence Publishing, 2010), incluindo contribuições de 45 “experts” de renome mundial, e foi co-autor de vários livros na mesma área.
  • Baseado em avaliações de publicação, em novembro de 2013, a agência americana Expertscape classificou o Prof. Manfredini como expert #1 mundial no campo das desordens temporomandibulares e desde então sempre foi indicado no top 3 de experts da área.
  • Desde novembro de 2018, tem sido indicado pela mesma agência como #1 na área do bruxismo.
  • Desde 2018, é membro e coordenador do Bruxism Consensus Panel da International Association for Dental Research, trabalhando na atualização da definição e nas estratégias de classificação para o bruxismo e para o qual servirá como vice-presidente INfORM, iniciando em 2023.

Nacionalidade: Itália

Áreas científicas: Oclusão

11 de novembro, de 14h00 às 19h00

Auditório A

Resumo da conferência

14:30 – 16:00
Standardized Tool for the Assessment of Bruxism (STAB): o primeiro sistema multidimensional para abordagem ao bruxismo

A definição de bruxismo evoluiu nos últimos anos, ultrapassando a antiga crença de que bruxismo é sinónimo de ranger os dentes durante o sono (Lobbezoo et al., 2013; Lobbezoo et al., 2018). Com o aumento do conhecimento em matéria de sono e das atividades musculares que também podem estar presentes no período de vigília (Manfredini et al., 2019; Manfredini et al., 2021), o bruxismo deixou de ser visto como uma patologia ou distúrbio passando para uma atividade motora que pode ser um sinal de condições subjacentes e pode até ter uma possível relevância fisiológica ou protetora (Raphael et al., 2016; Manfredini et al., 2016).

No artigo de revisão em 2018, bruxismo de sono (BS) é definido com uma atividade muscular mastigatória (AMM) durante o sono, caracterizada por uma atividade rítmica (fásica) ou não rítmica (tónica), e não necessariamente um distúrbio de movimento ou do sono em indivíduos saudáveis.

Bruxismo de Vigília (BV) é definido como uma atividade muscular mastigatória durante o período de vigília, caracterizada por uma atividade repetida ou contacto dentário contínuo e/ou por uma contratura mandibular sem contacto interdentário, não sendo uma desordem do movimento em indivíduos saudáveis (Lobbezoo et al., 2018).

Seguindo estas premissas durante a preparação do Standardized Tool for the Assessment of Bruxism (STAB), surgiu a necessidade de identificar as melhores estratégias para abordagem ao bruxismo, comorbilidades, etiologia e consequências. Enquanto atividades musculares, tanto o bruxismo de sono como o da vigília requerem uma avaliação completa, que pode ser baseada numa combinação de informações baseadas no sujeito, na clínica ou instrumentalmente.

A fundamentação encontrada para criar ferramentas e o roteiro que levaram à seleção dos critérios presentes no STAB foi amplamente discutida em algumas publicações recentes (Manfredini et al., 2020; Manfredini et al., 2022).

Esta conferência apresenta-vos o STAB e sua a lista de itens divididos por eixos específicos e domínios.

 

17:30 – 19:00
Disfunção temporomandibular e ortodontia
Esta palestra apresenta uma visão geral do papel do ortodontista na abordagem à disfunção temporomandibular (DTM).

Décadas de estudos resultaram numa crescente evidência científica da inexistência de relação direta entre características da oclusão dentária ou posição condilar e DTMs. Os mesmos estudos esclarecem a necessidade do foco em questões neurológicas e psicológicas para um tratamento adequado de pacientes com dor na ATM e nos músculos da mandíbula.

Enquanto este conceito está bem compreendido na comunidade de médicos dentistas com prática no campo da dor orofacial, tem sido de mais difícil a assimilação nalgumas comunidades de ortodontistas. Alegações de que há supostas “evidências científicas” que suportam o reposicionamento mandibular e finalização ortodôntica, com base anedótica e raciocínio indutivo, é o melhor argumento para refutar qualquer argumento científico. Tratamentos invasivos que levam a alterações oclusais permanentes e tratamentos que se mantêm durante anos, ainda são propostos, contra todas as recomendações das academias de especialistas.

Alguns argumentos para desencorajar a abordagem ortodôntica como tratamento para as DTM são simplesmente baseados na fisiologia da cavidade oral. Por exemplo, os dentes raramente contactam em máxima intercuspidação; a orientação do movimento é importante para trabalhar num articulador, mas nunca executada na vida real; características da relação interarcadas são apenas um quadro estático; a posição condilar é por definição assimétrica; a relação condilo-fossa ou condilo-disco não pode ser “corrigida” apenas dum lado, e é bizarro considerar-se que a maioria dos pacientes têm problemas monolaterais. Assim, qualquer teoria etiológica de orientação oclusal para DTM precisa de incluir todo tipo de exceção para ser considerada “verdadeira”.

Consequentemente, não é uma surpresa que a literatura, que é realmente baseada em pacientes, desmantele estas teorias. Por exemplo, como explicar a dor da ATM em pacientes com uma boa oclusão? E como explicar a ausência de sintomas em pacientes com más oclusões? E os muitos pacientes com osteoartrose assintomática? Apenas uma imaginação fértil pode ajudar um profissional que trabalhe na área da oclusão a encontrar uma explicação perante estes pacientes.

Em conclusão, a ortodontia pode ser considerada neutra para a ATM. Não pode curar a DTM, mas também é pouco provável que cause sintomas da ATM. O conhecimento da epidemiologia dos ruídos da ATM é fundamental para a compreensão desta última afirmação.

Então, o que deve fazer o ortodontista?

A resposta é que o ortodontista deve compreender que as queixas de DTM devem-se essencialmente a uma sobrecarga emocional, que leva a tensão muscular e através da resposta do hospedeiro, ao aparecimento de sinais e sintomas.

O ortodontista, observando fora da boca do paciente com DTM, verá facilmente um indivíduo com sofrimento emocional e sem qualquer sinal oclusal ou posicional da ATM para explicar os sintomas se comparado com indivíduos assintomáticos.

Dependendo dos sintomas, estratégias de manuseamento que vão desde conselhos comportamentais muito simples para o controlo do bruxismo acordados, até estratégias multimodais complexas para dor orofacial crónica, são as abordagens necessárias.

Dentro do conceito da sobrecarga, um aparelho oral é apenas uma muleta, não a cura ou um instrumento de diagnóstico.

Pensar nisso faz com que tudo se encaixe imediatamente em todo o conhecimento clínico que tem sido sustentado por gerações de especialistas dedicados à dor orofacial.

Objetivos de aprendizagem:
– Atualização sobre a evidência em disfunções temporomandibulares;
– Compreender que a ortodontia é neutra no que respeita à DTM;
– Fornecer mensagens éticas sobre a necessidade de evitar tratamentos oclusais excessivos para o manuseamento de DTM.