Portugal é o país europeu que registou o aumento mais significativo de utentes que referiram não ter recorrido ao médico por motivos económicos. A medicina dentária surge entre as necessidades de saúde não satisfeitas dos portugueses que vivem com baixos rendimentos.

No estudo “Health at Glance: Europa 2016” (pdf), apresentado pela Comissão Europeia na última quarta-feira, 23 de novembro, quase 29% dos inquiridos, cerca de um terço, afirmou não ter consultado o médico dentista devido à falta de dinheiro, tempos de espera ou distância.

Outra das conclusões do relatório da OCDE é que, entre 2008 e 2014, a percentagem de pacientes que indicou não ter tido cuidados de saúde por dificuldades financeiras triplicou de 2 para 6%.

Estes resultados corroboram as conclusões do II Barómetro Nacional de Saúde Oral, realizado pela consultora QSP para a Ordem dos Médicos Dentistas, em 2015. De acordo com este estudo, a crise económica e financeira que se verificou no país nos últimos anos teve impacto no acesso dos portugueses à saúde oral, com 16,3% dos inquiridos a admitirem que reduziram o número de visitas ao médico dentista nos últimos 12 meses, sendo que, desses, 59,4% justificaram a decisão com questões monetárias.

O II Barómetro Nacional de Saúde Oral concluiu ainda que, dos inquiridos, 46,7% não consultam o médico dentista há mais de um ano. Por outro lado, 7,7% de portugueses admitiram que não vão a uma consulta de medicina dentária há pelo menos cinco anos e 34,3% nunca foram ou vão apenas quando se trata de uma urgência.

“O que este Barómetro nos mostra é que são as pessoas mais desfavorecidas quem tem maiores dificuldades no acesso a consultas de medicina dentária com consequências terríveis para a saúde em geral”, alertou o bastonário da OMD, Orlando Monteiro da Silva, na altura da apresentação do estudo.

O atual relatório da OCDE vem acrescentar que Portugal está abaixo da média europeia quanto à aplicação do Produto Interno Bruto (PIB) na saúde. Enquanto a média dos 28 Estados-Membros é de 9,9%, no caso português situa-se nos 8,9%. O “Health at Glance: Europa 2016” revela ainda que, após a crise financeira de 2008, se verificou um aumento dos cuidados de saúde por satisfazer, sobretudo entre os mais pobres.

A morte prematura de 555 mil europeus em idade laboral é outra das realidades apresentadas pelo relatório, que aponta as doenças crónicas como principais responsáveis. Segundo a OCDE, melhores políticas de saúde e de prevenção da doença podem contribuir para inverter esta situação e permitir à Europa poupar milhares de euros.

O documento mostra o panorama da saúde na Europa e destaca a importância dos cuidados de saúde primários enquanto agentes da redução das desigualdades no acesso à saúde e de resposta às necessidades de uma população europeia cada vez mais envelhecida.

State of Health in the EU (European Commission)

 

Consulte o infográfico sobre o estudo: