A integração de médicos dentistas nos centros de saúde estava prevista para o primeiro semestre do ano, mas acabaria por se atrasar. O concurso público para a prestação de serviços de medicina dentária no SNS decorreu em julho e, este mês, inicia-se a colocação dos profissionais nas unidades selecionadas para o projeto-piloto. Em declarações ao semanário Expresso (pdf), o gabinete do Ministério da Saúde justifica o atraso com a “necessidade de adaptar os espaços físicos, adquirir novos equipamentos, licenciamento dos locais, entre outros”.

A publicação noticia que esta semana chegam os primeiros médicos dentistas às Unidades de Saúde Familiar, localizadas em Monte da Caparica, Moita, Fátima, Salvaterra de Magos, Cartaxo, Rio Maior, Azambuja, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Lourinhã e Mafra-Ericeira. Na próxima semana será a vez de Portel e Montemor-o-Novo receberem estas equipas, que serão compostas por um médico dentista, um higienista e um assistente.

O projeto-piloto integra o Plano Estratégico de Reforma para os Cuidados de Saúde Primários e, nesta fase, destina-se a doentes transplantados, diabéticos, insuficientes renais, pacientes com problemas respiratórios ou cardíacos, com cancro ou que façam hemodialise e que sejam utentes destes unidades de saúde. De acordo com o Expresso, “a avaliação dos resultados ditará, ou não, a pretendida generalização dos cuidados de saúde oral ao resto da população (saudável), a partir de 1 de janeiro de 2017, e no futuro à extensão do programa a todo o país”.

Para Orlando Monteiro da Silva, bastonário da OMD, a medida “não resolve o problema de acesso dos portugueses ao SNS”, embora seja uma oportunidade tanto para a população (cuja maioria não tem capacidade para pagar a consulta nos privados), como para os médicos dentistas, nomeadamente aqueles que terminam a universidade e têm pela frente a emigração e a precariedade do subemprego. Aliás, o subemprego é uma realidade preocupante pois, alerta Orlando Monteiro da Silva, é “debilmente valorizado e com remunerações deploráveis”, que podem “traduzir-se numa perda de qualidade na prestação de serviços, apesar de termos uma maioria de profissionais superiormente qualificados”.

Partindo dos resultados do Estudo da Empregabilidade 2015, realizado pela OMD, o Expresso falou com vários profissionais que conhecem esta realidade. Mariana Barcelos Vaz, coordenadora do Conselho dos Jovens Médicos Dentistas da OMD, alerta que muitos profissionais da sua geração “pagam para trabalhar” e aponta exemplos de colegas que percorrem vários quilómetros para dar consultas, alguns “a troco de nada, só pela experiência”. “Andamos a investir dinheiro na formação de dentistas, uma das mais caras do país, para que estes exerçam fora de Portugal”, conclui o bastonário da OMD, em declarações ao semanário.