A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) considera insustentável o aumento do número de profissionais que todos os anos saem das sete faculdades que lecionam o mestrado integrado de medicina dentária.

Os “Números da Ordem 2016”, um documento elaborado pela OMD e que desde de 2004 traça o perfil dos médicos dentistas, mostram que no ano passado houve um aumento de 4,6% no número de médicos dentistas inscritos na Ordem para 8.933 profissionais.

A OMD considera que este aumento de médicos dentistas está muito acima das necessidades do país e da renovação de gerações de profissionais.

Nas sete faculdades portuguesas de medicina dentária estavam inscritos no ano passado 3.192 alunos.

O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, avisa que ”o número de profissionais de medicina dentária é excessivo face às necessidades da população portuguesa. Já estamos muito acima da recomendação da Organização Mundial de Saúde de um médico dentista por cada 2 mil habitantes. Aliás, pelas estimativas da OMD daqui a dois anos teremos um médico dentista por mil habitantes, o dobro dos médicos dentistas que o país precisa. O subemprego nesta área é absolutamente dramático para os mais jovens que se desdobram a trabalhar em 4 ou 5 locais em simultâneo, com situações muito precárias e ordenados baixíssimos.”

Para Orlando Monteiro da Silva: “É urgente tomar medidas e as faculdades de medicina dentária têm de se entender e reduzir drasticamente o número de vagas para mestrados integrados. Na abertura do próximo ano letivo, já em outubro, é imperativo que haja menos alunos no primeiro ano. A medicina dentária é uma profissão que exige uma atualização constante, pelo que as faculdades podem e devem apostar no ensino pós-graduado, quer para médicos dentistas portugueses quer para profissionais estrangeiros. O nosso ensino é reconhecido mundialmente e temos todas as condições para receber médicos dentistas de outras nacionalidades que necessitem de atualizar a sua formação.”

Os números da OMD relativos ao ano passado dão conta de que a média de idades dos médicos dentistas a exercer em Portugal é de 38 anos. No total, 64% dos médicos dentistas inscritos na OMD têm menos de 40 anos, e 58,7% são mulheres, uma tendência de feminização da profissão que se tem vindo a acentuar.

Em crescimento continua também a emigração, sobretudo dos mais jovens. Os “Números da OMD 2016” mostram que o número de membros inativos, que pedem a suspensão da inscrição, aumentou ligeiramente, em 1,5%, para 10,9%, sendo que destes a maioria opta por emigrar.

Mais de metade dos membros inativos da OMD tem entre 26 e 40 anos. São dados que para Orlando Monteiro da Silva mostram “a saturação da profissão, a emigração é crescente e estamos a investir na preparação destes jovens para depois eles irem trabalhar no estrangeiro. O Ministério da Saúde apresentou um projeto-piloto para a saúde oral nos centros de saúde. Desafiamos o Ministério a acelerar este projeto contratando médicos dentistas para os centros de saúde e para os hospitais em todo o país. Porque se há médicos dentistas em excesso, a verdade é que a população continua a ter grandes dificuldades em aceder a cuidados de saúde oral. É um paradoxo a que urge pôr termo”.

O bastonário da OMD deixa ainda “outra nota de preocupação com os médicos dentistas no Reino Unido, o principal destino dos profissionais que emigra. É com preocupação acrescida que assistimos à saída do Reino Unido da União Europeia, que seguramente terá consequências no futuro.”

No Reino Unido trabalham 53% dos médicos dentistas a exercer no estrangeiro. Segue-se França com 14,6%, e o Brasil com 7,3%, o que pode indicar um regresso de médicos dentistas brasileiros ao país de origem.

Quase 92% dos médicos dentistas inscritos na OMD tem nacionalidade portuguesa, sendo que há 437 médicos dentistas brasileiros a exercer em Portugal, seguindo-se 71 da Itália e 65 da Alemanha. No total, há médicos dentistas de 38 nacionalidades a trabalhar em Portugal.

As regiões com maior número de médicos dentistas a exercer são as áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa. No extremo oposto está o Alentejo, sobretudo no Alentejo litoral e Lezíria do Alentejo.

 

Entrevista do bastonário da OMD ao Correio da Manhã:

 

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