Sílvio Cecchetto, presidente da ABCD (Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas), visitou a Ordem dos Médicos Dentistas, dias antes do XXIV Congresso da OMD. O médico dentista brasileiro esteve em Portugal para participar na Reunião da Associação Dentária Lusófona, que decorreu durante o maior evento de medicina dentária e reuniu profissionais dos vários países de língua oficial portuguesa.

Aproveitamos o ocasião para fazermos a entrevista abaixo.

Que análise faz do atual cenário da medicina dentária e da profissão no Brasil?

Hoje vivemos um momento um pouco complicado na medicina dentária brasileira, que é reflexo da situação política no Brasil. Gerou-se um cenário em que os pacientes estão com dificuldades em termos de frequência do consultório. Mas, o nível da medicina dentária, da sua qualificação, da profissão do cirurgião dentista brasileiro, do pesquisador e de tudo o que são valores agregados, está bem. O que está a dificultar é a frequência e a participação do paciente no consultório e isso reflete-se financeiramente na saúde deste e na saúde do profissional.

O que poderá ser feito para aumentar essa frequência?

O Brasil vive um momento de turbulência política e estamos numa situação de insegurança muito grande. A partir do momento em que haja um cenário de segurança, de tranquilidade e de emprego, a frequência poderá melhorar. Há muitas empresas a fechar, muitos desempregados, a inflação está a subir e, por isso, o paciente não se sente seguro para investir, para fazer um compromisso mensal e acaba por esperar que a situação acalme, para que possa retomar ou iniciar um tratamento. O paciente muitas vezes quer fazer o tratamento, mas tem receio de assumir o compromisso e não poder honrá-lo. Esse é o panorama que estamos a viver.

Participa novamente no Congresso da OMD, na reunião da Associação Dentária Lusófona. Quais são as expectativas em relação a estes encontros?

É com muita satisfação que estou a visitar a Ordem dos Médicos Dentistas. O Congresso da OMD é um evento que já nasceu pronto para ter sucesso, tanto na parte comercial, como na parte científica. Vendo os conferencistas e os temas, acredito que é um congresso que poucos fazem na Europa, com esta qualidade em termos científicos e na parte comercial. É um congresso que todos procuram. As empresas que participam têm segurança e sabem que as coisas vão correr bem. A parte científica é fantástica, irrepreensível. Só posso dar os parabéns a todos.


Em novembro, antes do congresso, o presidente da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, Sílvio Cecchetto (à esquerda) foi recebido pelo bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva (ao centro), e pelo vice-presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Médicos Dentistas, Pedro Pires.

 

A reunião em que participa junta vários os parceiros que falam a língua portuguesa. Qual a importância deste encontro?

Essa é uma das grandes razões da nossa presença. A reunião é de fundamental importância, porque realmente precisamos de nos conhecer e entender melhor, traçar as dificuldades que cada país tem e o que tem de melhor para todos aprendermos. No fundo, passamos a experiência que cada um tem, ficamos felizes com o sucesso ou não temos nenhum pudor em relatar o insucesso. É uma reunião importante.

Esta troca de ideias estende-se para além do congresso?

Desde o ano passado que a ABCD também promove um encontro no Brasil, em conjunto com a FDI (da qual somos membros regulares, graças ao Dr. Orlando Monteiro da Silva que durante a sua gestão na FDI trabalhou muito e conseguiu que a ABCD fosse reconhecida como membro regular), que acontece anualmente a 20 de março. Este ano, o slogan da campanha foi «Sorria Para a Vida».

No Brasil, pelos números apresentados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), mais de 15 mil novos casos de cancro oral aparecem anualmente e cinco mil pessoas morrem. Estamos já na 19ª campanha de prevenção em São Paulo, em que a HPV incide nos jovens por falta de alguns cuidados.

E temos mitigado bastante a doença, através do kit da cesta básica que vai para o trabalhador, onde é colocado um kit de higiene oral, constituído pelo menos por uma pasta de dentes e, se possível, um fio dental. Queremos assim criar a cultura da higiene e da prevenção, que entendemos que é o mais simples, o mais barato e o que vai salvar os dentes das nossas crianças.