Gerhard Seeberger nasceu em Grossenseebach, Alemanha, e licenciou-se em medicina na Universidade de Pavia, em Itália.

Nesse período conheceu a sua mulher e, apesar de ter regressado ao país de origem para se graduar em medicina dentária na Universidade de Würzburg, voltou ao Sul da Europa.

O casal optou pela região italiana da Sardenha para se estabelecer. Além do clima apelativo e da cultura, a possibilidade de poder exercer medicina dentária de uma forma mais liberal pesou na hora de escolher.

“Posso afirmar que os médicos dentistas alemães recebem uma melhor formação graduada e estão aptos a exercer assim que concluem os estudos. No entanto, os médicos dentistas italianos aprendem rapidamente e nos primeiros cinco anos de prática atingem um excelente nível profissional”, explica.

Gerhard Seeberger é atualmente «speaker» da FDI e um dos entrevistados da próxima edição da Revista da Ordem dos Médicos Dentistas. Um testemunho notável, em que disponibilizamos para leitura os momentos mais importantes de uma entrevista que nos foi concedida aquando da visita do Professor Seeberger à sede da OMD.

É atualmente «Speaker» da FDI e responsável pelos assuntos internacionais da AIO (Associazione Italiana Odontoiatri). Como descreve esta vasta experiência?

Há 10 anos que sou responsável pelos assuntos internacionais da Associazione Italiana Odontoiatri (AIO). Tem sido a rampa de lançamento para tudo o que realizei desde então: Presidente da AIO, Presidente da ERRO-FDI – European Regional Organization of The World Dental Federation, Conselheiro e agora «Speaker» da FDI. Nesta década, adquiri experiências e descobri capacidades que, de outro modo, desconheceria. Consegui disseminar o entusiasmo pela minha Associação com o meu envolvimento em organizações europeias e internacionais de medicina dentária. Hoje em dia conto com uma equipa que trabalha por si só, o que me permite ter tempo para novos desafios e projetos em novas áreas de intervenção. Aliás, nesta década, adquiri experiências e descobri capacidades que de outro modo desconheceria. Creio que uma pessoa empenhada cresce com as tarefas que executa. É um conselho singelo para todos aqueles que duvidem da sua própria capacidade perante uma situação desconhecida ou um novo cargo.

Um dos dias mais importantes ao longo desta última década foi o 22 de fevereiro de 2008, quando o Bastonário da OMD, o Dr. Orlando Monteiro da Silva, me perguntou se gostaria de me juntar a ele na produção de novos contributos para a medicina dentária global. Nessa altura pretendia candidatar-se à Presidência da FDI e convidou-me para seu Conselheiro. Aceitei. Queríamos conduzir com sucesso, e em tempos adversos, a profissão e profissionais dos nossos próprios países, ambos situados na «vulnerável» Europa do Sul. A partilha das nossas experiências contribuiu para o desenvolvimento de estratégias de sucesso no combate ao “low-cost”, Groupon e no exercício ilegal da profissão.

Foram muitos os momentos marcantes nos últimos dez anos, nunca deixei de acreditar que o copo está sempre meio cheio e que crise não é apenas sinónimo de “oportunidade” na língua chinesa.


Da esquerda para a direita, Paulo Ribeiro de Melo, secretário geral da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, e Gerhard Seeberger, speaker da Federação Dentária Internacional.

 

O que considera essencial para o sucesso do Plano Estratégico da FDI 2014–2017?

Os três grandes eixos do Plano são: ir ainda mais de encontro às necessidades dos membros da FDI; proceder a uma maior divulgação dos valores e mensagens da FDI, agindo de forma concertada sob aquilo que é a sua visão e missão; elevar o perfil da profissão, através de uma liderança organizacional mais eficaz.

A minha resposta imediata à pergunta? Uma maior inclusão! O sucesso, só o é quando abrange todos, quando não há vencedor, nem vencido! Os membros da FDI são partes integrantes de uma cadeia, pelo que todos são essenciais para o funcionamento de uma organização global. Não obstante a comunicação entre parceiros ter melhorado imenso nos últimos anos, é ainda necessária uma maior inclusão no estabelecimento e manutenção de contactos. É preciso reforçar a importância da FDI para além das organizações nacionais de medicina dentária, ou seja, para o mundo exterior à medicina dentária, organizações noutras áreas da medicina, associações e instituições humanitárias. É necessário estar em contacto com o mundo da finança e da indústria e com os maiores interessados deste conglomerado: as pessoas. Pensar global e agir local. 

Temos que pensar de forma global e agir de forma local. A liderança terá de convergir numa equipa forte e visionária. É fundamental que se afaste da cultura de culpabilização por erros passados e do enfoque nos problemas. O sucesso pode ser pensado e construído num ambiente aberto e visionário.

A prevenção é a palavra-chave da Saúde Oral?

Sim, se for inclusiva, se considerar o indivíduo como um todo, se considerar os prestadores de cuidados de saúde oral, os educadores e a sociedade em que se insere: prevenção na medicina dentária, na medicina e na vida. Também o será para a Saúde Oral!

Quais os principais desafios que se colocam aos médicos dentistas?

Os desafios são diferentes para cada parte do mundo. No entanto, aquele que mais reúne consenso entre as Organizações Nacionais é o de colocar a medicina dentária na lista de prioridades das agendas políticas dos seus respetivos países. Por outro lado, considero ser tão importante a garantia de acesso a cuidados médicos em zonas com falta de médicos dentistas e assistentes dentários, como a garantia de segurança do paciente e a qualidade dos cuidados de saúde oral em países onde a pletora de profissionais de saúde oral e situações económicas adversas conduzem à comercialização dos cuidados de saúde e ao charlatanismo moderno que resulta no sobre-diagnóstico e sobre-tratamento.

Este último é predominante nas regiões do Sul da Europa e não pode ser resolvido localmente pelas Organizações Nacionais de cada país. Temos de continuar a procurar novas estratégias. Contudo, é inconcebível que os profissionais de Saúde Oral compensem a falta de recursos alocados com voluntarismo e prestadores de “under-level-providers” – não utilizei o termo nível intermédio, propositadamente, pois não faz sentido na medicina –, como frequentemente parece ser a intenção de alguns representantes governamentais dos nossos países.

Remunerações adequadas e justas na medicina dentária, assim como na medicina, são a melhor garantia para a saúde sustentável da população, impedindo assim o aparecimento de «falsários». Creio que no futuro teremos de trabalhar mais por menos, o que não equivale a uma menor realização de um médico dentista.

Quais os principais contributos da OMD para a FDI?

Diria que ofereceu o Presidente da FDI certo, na altura certa, embora difícil. Um brilhante conhecedor de medicina dentária no serviço público. Foi ideia do Dr. Orlando Monteiro da Silva pedir um grupo de reflexão da FDI, quando o brainstorming sobre o futuro da medicina dentária precisava envolver todos os intervenientes. O resultado foi o Vision 2020 da FDI, um documento de referência para os membros da FDI, que explica meticulosamente a relevância da medicina dentária, hoje e no futuro, na arena da saúde.

O cheque dentista português é um modelo válido, passível de ser implementado em muitos outros países. É um instrumento excelente e um conceito que torna a medicina dentária atrativa no debate com os nossos políticos.

 

Entrevista em inglês disponível em https://www.omd.pt/en/