Orlando Monteiro da Silva, numa grande entrevista à revista “Villas & Golfe”, considera que “o setor da saúde não pode ser separado dos outros setores sociais, como a educação e a segurança social”. Para o bastonário da OMD “em Portugal temos estas áreas demasiado estanques, pelo que há uma necessidade de procurar soluções inovadoras em torno de objetivos comuns”.

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Orlando Monteiro da Silva sublinha que “a saúde oral não pode ser separada da saúde em geral” e reconhece que “atualmente, há uma consciencialização cada vez maior da importância da higiene oral na prevenção das doenças da cavidade oral”. Ainda assim “a não integração da saúde oral, nos anos 80, no SNS é uma lacuna imperdoável, mas foi uma opção ideológica; opção que a Ordem nunca subscreveu. Como tal, acho que é preciso uma opção política, mas que não deve ser ideológica, relativamente ao acesso da população a cuidados de saúde oral. Hoje, essa integração com o SNS pode ser feita de diversas formas: através da contratação massiva de médicos dentistas para os centros de saúde e para os hospitais, o que seria praticamente impossível, ou através de uma rede já existente na contratualização de determinado tipo de serviços com um certo tipo de cuidados pré-definidos”.

O que é essencial, considera o bastonário, é encontrar respostas para satisfazer as necessidades da população ao nível da saúde oral. Necessidades que se agravaram com a crise económica e financeira que o país tem atravessado nos últimos anos.

Orlando Monteiro da Silva recorda que “recentemente, o Barómetro da Saúde Oral de 2014 da Ordem concluiu que a população tem confiança nos médicos dentistas, mas tem dificuldade de acesso à medicina dentária e tem grandes carências. Portanto, há uma procura grande dos serviços de medicina dentária que não encontra resposta com sistemas de ajuda adequados para que as pessoas possam aceder aos cuidados básicos de saúde oral.

A criação do cheque-dentista foi na opinião do bastonário da OMD “um passo na direção correta. É um programa de saúde pública, preventivo, que vai no sentido de identificar alguns grupos especiais e dar-lhes algum tipo de acompanhamento. A avaliação feita demonstra que houve ganhos de saúde consideráveis em Portugal resultantes do PNPSO. Já chegou quase a três milhões de utentes. Mas é preciso ir mais longe, porque a generalidade da população não está aqui coberta. Por exemplo, temos mais de metade dos nossos idosos com mais de 65 anos totalmente desdentados. É necessário identificar nas áreas sociais as prioridades e alocar recursos para estas situações”.

O bastonário da OMD afirma que “hoje a medicina dentária portuguesa é das mais reconhecidas a nível mundial” justificando ”com os argumentos da qualificação e com a nossa experiência, fundamentalmente no setor privado. Temos requisitos em termos de licenciamento com parâmetros só comparáveis aos países mais avançados do mundo, oferecendo segurança às pessoas nas instalações e nos equipamentos. Começámos a formar médicos dentistas em Portugal nos anos 1970 e na altura tivemos um parceiro, que foi a Noruega, um dos países mais avançados a este nível, que nos ajudou muito. Foi o embrião para uma excelência que a partir daí nos permitiu acompanhar o melhor que se fazia na medicina dentária a nível mundial. O percurso foi absolutamente notável e isso é transversalmente reconhecido”.

No perfil que a revista traça do bastonário da OMD é realçado que Orlando Monteiro da Silva foi o primeiro português eleito presidente da Federação Dentária Internacional e realça a sua participação, como coautor, no livro Vision 2020 que traça as tendências da medicina dentária para a próxima década. Na antevisão de Orlando Monteiro da Silva, “o que se pretende para a medicina dentária não pode estar separado da saúde em geral. Tem de haver capacidade de colaboração entre diferentes grupos de profissionais na perspetiva de colocar a saúde pública e o doente em primeiro lugar. Segundo, uma participação mais ativa do doente nos diversos processos de decisão ao nível da saúde. Identifica também as tecnologias de comunicação e informação como fundamentais para o futuro da saúde. Identifica a economia como crucial, afetando o setor da saúde a vários níveis, sendo a pobreza o principal fator que exclui as populações de níveis de saúde adequados. Por último, os recursos humanos e a educação, no sentido em que é preciso reformular os curricula e adaptá-los a realidades diferentes; a discrepância na distribuição dos recursos humanos a nível mundial constitui um desafio político enorme”.