O médico Francisco George foi reconduzido no cargo de diretor-geral da Saúde pela quinta vez consecutiva, iniciando um novo mandato de cinco anos à frente da Direção-Geral da Saúde. Especialista em saúde pública e ex-funcionário da Organização Mundial de Saúde (OMS) durante mais de uma década, Francisco George foi nomeado subdiretor-geral de Saúde em 2001 e designado diretor-geral em 16 de Agosto de 2005. No seu último mandato, destaca-se entre outros projetos, a implementação do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral, na sua vertente cheque-dentista, em colaboração com a Ordem dos Médicos Dentistas.

ROMD – Qual o balanço que faz do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, desde a implementação, em 2008, da vertente cheque-dentista?

FG – Naturalmente é altamente positivo. Digo isto, não por razões de cordialidade, mas porque é um modelo para nós que trabalhamos na área da saúde e também a nível internacional. Tem motivado aplausos generalizados e ainda recentemente o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral foi distinguido com um prémio internacional numa vertente de promoção da saúde oral.

ROMD – O que falta ainda conseguir no âmbito deste programa?

FG – Há sempre possibilidade de melhorar mas sublinho, no geral, a taxa de cobertura e a qualidade dos resultados têm sido reconhecidamente relevantes. No que se refere à estratégia definida no início do processo falta implementar a componente relacionada com o cancro oral, o que virá a suceder, espero, muito em breve.

ROMD – O cheque-dentista tem públicos-alvo bem definidos e restritos, no entanto, as dificuldades no acesso à saúde oral estendem-se a outras faixas etárias e grupos. O que pode a DGS fazer para diminuir essas dificuldades de acesso?

FG – Isso é verdade. Estamos a trabalhar no contexto do Plano Nacional de Saúde para reduzir iniquidades em todas as áreas programáticas e em particular no que se refere ao acesso. Os grupos etários alvos foram selecionados em função de rigorosos critérios epidemiológicos. Vamos, a médio prazo, deixar de ver, nos nossos monitores de televisão, portugueses com problemas dentários. A estratégia adotada em Portugal está integrada num contexto mais amplo, a nível europeu, que privilegia a intervenção até a uma idade de 15/16 anos, na certeza de que daí resultarão cidadãos mais preparados para, com medidas individuais muito simples, poderem manter bons indicadores na sua saúde oral, isto é, sem perdas de dentes, sem cáries e sem problemas orais.

400px-francisco-georgeROMD – O alargamento do cheque-dentista ao cancro oral foi confirmado pelo Ministro da Saúde, em que ponto está este alargamento?

FG – Estamos a trabalhar na fase final do sistema de informação. Logo que esteja terminado para entrar em produção iniciaremos o programa, tal como previsto.

ROMD – No seu discurso de tomada de posse mencionou como prioridade uma abordagem às doenças não transmissíveis ou crónicas, como são comummente designadas. A Declaração Política das Nações Unidas de 2011, em Nova Iorque, reconheceu que as doenças da cavidade oral, nomeadamente, a cárie dentária, a doença periodontal e obviamente o cancro oral, partilham fatores de risco com as quatro principais doenças crónicas – cancro, diabetes, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias – e, como tal, devem beneficiar de uma abordagem comum. Qual o grau de importância que atribui à participação dos médicos dentistas nesta estratégia?

FG – Antes de mais acrescentaria o problema do tabagismo como fator desencadeador de muitos dos problemas que citou, tal como a alimentação desequilibrada. Mas é verdade, a importância que os médicos dentistas assumem é indiscutível. Estão na linha da frente.

ROMD – Em termos de colaboração entre profissionais da saúde, a World Health Professions Alliance aprovou recentemente uma declaração sobre a colaboração interprofissional. Os médicos dentistas têm, por força da especificidade do seu exercício profissional quase exclusivamente no privado, um maior isolamento, comparando com outros profissionais de saúde que exercem no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Como poderá este isolamento ser mitigado, designadamente na partilha de informação com o SNS e os seus profissionais?

FG – Discordo da formulação da questão que coloca. O Programa Nacional de Saúde Oral trabalha neste momento, no âmbito do cheque-dentista, com mais de 3 mil médicos dentistas. É um exemplo. Como se sabe, os programas informáticos estão interligados, “falam” uns com os outros. Não há, nem pode haver, isolamento. Aliás, nunca houve tamanha comunicação na perspetiva da partilha da informação.

ROMD – Os médicos estomatologistas estão a diminuir em número e o perfil adotado pela generalidade dos países é o equivalente, em Portugal, ao do médico dentista. Como vê a DGS o processo de planeamento de recursos humanos, nesta área, ao nível da rede do Serviço Nacional de Saúde?

FG – Não temos competências na área dos recursos humanos. É a Administração Central do Sistema de Saúde que detém esta missão.

ROMD – A instituição militar tem uma carreira própria em termos hospitalares para médicos dentistas, na qual convivem médicos dentistas, médicos estomatologistas e outros profissionais de saúde. Existem médicos dentistas na generalidade dos centros de saúde da Região Autónoma dos Açores, alguns na Madeira e outros, muito poucos, no Continente. Como acha que se deve orientar, no futuro, a cobertura de cuidados de saúde oral da população, ao nível hospitalar?

FG – Citou bons exemplos. Vamos ter que equacionar estas questões no âmbito da reforma hospitalar.

ROMD – Como interpreta os resultados preliminares do último estudo epidemiológico levado a cabo pela DGS relativamente à saúde oral?

FG – São dados fantásticos. Alcançámos, em termos de indicadores, na população abrangida pelo programa, níveis de elevada qualidade.

ROMD – Como perspetiva a colaboração entre a OMD e a DGS?

FG – A colaboração entre a OMD e a DGS é exemplar. Exemplar, repito.

 

Entrevista originalmente publicada na Revista da OMD nº19, de novembro de 2013.