Todos os anos morrem mais de 60 mil pessoas na União Europeia vítimas de cancro na cabeça e no pescoço. Este ano, o Dia Europeu da Saúde Oral, que se assinala a 12 de setembro, quinta-feira, é dedicado ao controlo e prevenção do tabagismo.

Apesar de todas as campanhas de divulgação e prevenção, o tabaco continua a ser responsável pela maioria dos cancros incuráveis da boca e garganta, sendo também a maior causa de morte dos 28.

O tabaco é uma das principais causas de morte evitável no mundo, impondo um grande encargo às sociedades. Só em despesas de saúde associadas às consequências do tabaco, os países da União Europeia gastam anualmente mais de 25 mil milhões de euros.

O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, lamenta que “embora sejam passíveis de prevenção, as doenças orais continuam a ser um grave problema de saúde pública do século XXI. Todas as campanhas desenvolvidas não foram suficientes para reduzir números absolutamente chocantes. Em países ocidentais, com a população informada, ainda temos taxas de mortalidade muito elevadas. O tabaco é um flagelo muito grande com consequências pessoais, sociais e económicas demasiado elevadas”.

Metade de todos os fumadores morre prematuramente. A esperança de vida do fumador diminui cerca de cinco minutos por cada cigarro fumado – é este aproximadamente o tempo gasto a fumar um cigarro. Em média, as pessoas que morrem devido ao tabagismo perderam 10 a 15 anos de vida.

Orlando Monteiro da Silva salienta que “a utilização de tabaco sob qualquer forma é a maior causa de cancros da boca, garganta e cordas vocais. O tabaco contém cerca de 60 químicos cancerígenos. A leucoplasia, que é a mais comum das lesões potencialmente malignas da boca, é seis vezes mais frequente nos fumadores que nos não fumadores. Cerca de 90% dos cancros orais estão relacionados com o consumo combinado de álcool e tabaco. Uma associação verdadeiramente explosiva já que o consumo de tabaco e álcool em simultâneo aumenta até 38 vezes o risco de desenvolver cancro oral”.

Nos Estados-membros da União Europeia, 28% da população é fumadora, sendo que 29% dos jovens entre os 15 e os 24 anos confessa hábitos tabágicos.

Os países do Norte da Europa são os que apresentam menores taxas de cancro oral, sendo em contrapartida nos países de Leste que o número de casos mais tem subido e onde as taxas de mortalidade são maiores.

Os índices europeus sobre o número de pessoas que visitou o médico dentista nos últimos 12 meses ajudam a explicar estes números. Nos países onde a percentagem é mais elevada – Holanda (83%), Dinamarca (78%), Alemanha e Luxemburgo (77 %) – a taxa de incidência do cancro oral é menor. Os índices mais baixos de visita ao médico dentista estão precisamente na Europa de Leste – Lituânia (46 %), Polónia (44%) e Roménia (34%) –, mas também na Península Ibérica, com Portugal a registar 46% e Espanha 43%.

Em Portugal surgem cerca de 1.000 novos casos por ano de cancro da cabeça e pescoço, e após o diagnóstico apenas 40% dos portadores sobrevivem à doença mais que 5 anos. Razão pela qual o bastonário considera essencial “que avance o mais rápido possível o rastreio precoce do cancro oral, no âmbito do cheque dentista, já acordado com o Ministério da Saúde”.

O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas considera que “estes dados demonstram que, por um lado é essencial garantir o acesso das populações à saúde oral, já que o fator socioeconómico explica muito destes resultados. Depois é preciso envolver os médicos dentistas nas políticas de prevenção. Os efeitos do tabaco são muitos e variados, vão desde questões menos graves, como manchas e descoloração dos dentes, à halitose ou efeitos sobre o paladar e o olfato, até doenças mais graves como cárie, doenças das gengivas, incluindo melanose do fumador, a lesões potencialmente malignas ou cancro oral. O papel do médico dentista é por isso fundamental na definição de estratégias, mas também no acompanhamento do doente, seja um fumador passivo ou ativo.”

Orlando Monteiro da Silva acrescenta que “a Organização Mundial de Saúde calcula que em 2030, a menos que se verifique uma redução drástica no consumo de tabaco, o número de mortes em todo o mundo vai aumentar para 10 milhões por ano. É um número impressionante, que mais do que nos fazer pensar tem de nos fazer agir rapidamente.”

 

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