Como avalia a evolução da qualidade do programa de formação contínua da Ordem dos Médicos Dentistas nestes últimos anos?

O Centro de Formação Contínua (CFC) é, como o nome indica, o órgão que elabora as iniciativas de formação dos médicos dentistas no seio da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD). Não é uma formação obrigatória, mas cria as condições possíveis e necessárias para que os profissionais tenham acesso a atividades de carácter técnico e científico.

Temos organizado uma série de ações que foram sofrendo uma evolução lógica ao longo do tempo, indo ao encontro das necessidades e das sugestões dos colegas, adaptadas às diferentes regiões onde se realizam e garantindo sempre a igualdade e equidade no seu acesso.

No primeiro ano de mandato seguimos uma estrutura no plano de formação idêntica ao que foi feito no passado e que consistia na realização de um curso teórico de dia completo, em cursos de fim de dia e nas Jornadas da Primavera. Do primeiro para o segundo ano, reduzimos o número de cursos de dia completo, uma vez que constatamos que havia uma menor disponibilidade e interesse dos colegas em dedicarem um dia inteiro a este tipo de formação. Introduzimos, então, algo de inovador e que tem sido um verdadeiro êxito: os cursos hands-on.

Este ano, estão programados seis cursos teórico-práticos, dispersos por Lisboa, Porto, Funchal e Ponta Delgada para aquisição de conhecimentos teóricos e práticos. Aumentámos o número de cursos de fim de dia, um modelo com temas exclusivamente clínicos que pretendem criar uma discussão mais aberta entre conferencistas e colegas. É um modelo de curso que foi sendo descentralizado e que hoje já se estendeu a quase todo o país, de forma gratuita para todos os médicos dentistas.

De igual modo, introduzimos, também, uma conferência dedicada ao tema “Cancro oral e saúde oral em Portugal”, em estreita colaboração com a Federação Dentária Internacional, com a presença de conferencistas de referência mundial nestas áreas.

Relativamente à qualidade do programa de formação, foi desde sempre pautado por um alto grau de exigência, devido ao empenho e elevado nível científico dos oradores escolhidos.

Creio que mais que um incremento na qualidade, posso afirmar que a descentralização, a diversidade e o aumento da oferta, de acordo com as sugestões e necessidades atuais, são uma prioridade do CFC.

Nestes dois últimos anos, temos assistido à disponibilização de formação para médicos dentistas de forma gratuita. De que forma conseguiram implementar esta iniciativa?

Não foi tarefa fácil, mas foi um projecto que sempre tivemos em mente. Acredito que a OMD, sempre que possível, deve criar condições para que os colegas possam aceder a esta formação com os menores encargos possíveis. Digamos que este tipo de formação deverá ser tendencialmente gratuita.

Para tal, implementámos, junto de algumas empresas do setor, um plano de parcerias que lhes permite funcionar como patrocinadoras dos cursos do CFC. Conseguimos, assim, facultar os cursos de fim de dia deste ano, em regime de gratuitidade. O apoio por parte da indústria tem sido crescente e estamos certos que, no próximo ano, a adesão será ainda maior.

Em tempos difíceis, como aqueles que estamos a passar, a única ou pelo menos a melhor forma de acreditar e ter um futuro é acrescentar qualidade e conhecimento aos nossos profissionais. Nesse contexto, esta aposta faz todo o sentido num ano como o que atravessamos.

Podemos dizer que, em termos de formação, a OMD possibilita atualmente um vasto rol de cursos, teóricos e práticos, com vários modelos gratuitos ou a preços muito reduzidos, distribuídos pelo país. O próprio Congresso da OMD tem um valor substancialmente inferior quando comparado com o que acontece em qualquer congresso europeu similar.

Existem, no entanto, projetos para o futuro que visam chegar de forma mais fácil aos colegas que se encontram mais afastados dos grandes centros urbanos. Estes projetos, passam pela realização de cursos por videoconferência, ou seja, o que pretendemos é possibilitar também a formação por e-learning, permitindo-nos chegar a um maior número de médicos dentistas. Será, com certeza, o próximo passo!

Quais são os projetos, a curto e médio prazo, que o Centro de Formação Contínua pretende implementar?

Desde 2 de junho de 2006 que a formação contínua dos médicos dentistas é obrigatória. Nunca foi posta em prática, nem regulamentada e, no meu entender, bem. No entanto, como todos sabemos vivemos numa época de certificação da qualidade, onde a formação contínua tem um papel crucial, e por isso a OMD como sempre o fez tem que assumir o papel de vanguarda.

Nesse sentido, foi aprovado, na reunião do Conselho Diretivo, de janeiro de 2012, um documento que tem como objetivo atribuir créditos de formação às atividades organizadas pelo CFC e às atividades científicas organizadas por outras entidades, se acreditadas pela OMD.

O objetivo é claro. Acompanhar as diretrizes comunitárias neste âmbito e permitir aos médicos dentistas continuarem em pé de igualdade com outros profissionais europeus. Esta necessidade é, cada vez, mais real, tendo em conta a mobilidade de profissionais no espaço europeu.

Assim, estamos a desenvolver todas as condições para que os médicos dentistas possam aceder, através da área de membro do site da OMD, aos créditos realizados por cada um de nós. É um projecto que exige um enorme trabalho, mas muito necessário. Gostaria, no entanto, de dizer, para que não restem dúvidas, que não se trata de impor a ninguém a formação obrigatória. Ninguém vai ser obrigado a fazê-la! Apenas tem como objetivo permitir a contabilização da formação realizada em unidades de crédito, de acordo com a legislação europeia de certificação da qualidade.

Em termos pessoais, qual é sua disponibilidade para continuar a abraçar os desígnios da OMD?

Acho que todos os médicos dentistas têm a obrigação de estar disponíveis para trabalhar em prol da classe e, portanto, colaborar de forma ativa e construtiva com a nossa Ordem. Obviamente que cada um é livre de decidir o momento e o local onde entende ser mais útil.

No que me diz respeito, estou e estarei totalmente disponível para dar o meu contributo, sempre que entenderem que o mesmo pode ser válido e adequado.

 

Entrevista publicada na Revista OMD nº 12, de março de 2012. Descarregar original em formato PDF (1 MB).