Preocupada com o facto de o Cancro Oral ser sistematicamente esquecido pelas várias Entidades responsáveis a Associação Portuguesa de Medicina Dentária Hospitalar (APMDH), após um amplo estudo desta temática e inúmeras iniciativas organizadas com vista à formação de Profissionais Médicos Dentistas neste domínio, lançou no decurso do ano de 2009 uma iniciativa pioneira em Portugal, a Campanha de Auto-exame para Prevenção do Cancro Oral.

A iniciativa contou de imediato com o apoio Institucional da Ordem dos Médicos Dentistas, da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e do Grupo de Trauma e Emergência (GTE). Após este grito de alerta lançado pela APMDH vários Grupos surgiram com outras iniciativas no mesmo âmbito.

Além da minha experiência pessoal e do Colega Jorge Marinho, enquanto Profissionais do Serviço de Estomatologia do IPO do Porto, relembro aqui, os dados que estiveram na base desta nossa preocupação:

Em Portugal, foram registados, no ano de 2006, com base nos dados da International Agency for Researche on Câncer (IARC), 1697 casos de cancro da boca e da faringe o que representa cerca de 4,2% do total de tumores malignos diagnosticados anualmente, ocupando o 6º lugar num universo de 15 localizações topográficas no corpo humano.

Este número é ainda mais significativo para os homens, que são mais atingidos do que as mulheres numa relação de 4 para 1. No sexo masculino a referida patologia representou 6,3% do total de tumores malignos diagnosticados no ano de 2006, com 1460 casos registados, ocupando o 5º lugar no mesmo universo de 15 localizações topográficas no corpo humano.

Também no que respeita ao sexo masculino, se considerarmos o Cancro da Cavidade Oral, Faringe e Laringe, ou seja as vias aerodigestivas superiores, temos para o mesmo ano um registo de 2604 casos, o que representa em termos percentuais 11,2%, o que o coloca em 3º lugar, a par do cancro do pulmão.

Tendo por base os dados do Registo Oncológico da Região Norte (RORENO), o Distrito mais atingido na Região Norte, em números absolutos, é o Distrito do Porto.

Esta patologia, atinge pessoas de todas as faixas etárias, estando a maior parte das vezes associada à tríada álcool, tabaco e má higiene oral. Em todo o mundo, anualmente, são registados cerca de 400 mil casos de cancro da boca e da faringe.

Sabendo que a patologia oncológica da área da cabeça e pescoço tem altos índices de morbilidade e mortalidade é inquestionável o impacto da mesma em termos de saúde pública. Esses índices de morbilidade e mortalidade estariam radicalmente diminuídos com um atempado diagnóstico precoce.

Assim sendo, além do aumento do número de casos de cura e consequente diminuição de óbitos provocadas por esta patologia, haveria uma diminuição drástica da extensão das mutilações provocadas pela cirurgia oncológica assim como das sequelas deixadas pelos tratamentos complementares (radioterapia e quimioterapia).

Qualquer mutilação na área buco-maxilo-facial tem implicações funcionais (mastigação, deglutição, fonação, respiração, estética e postural) e Psicológicas e que serão tanto mais marcantes quanto mais agressivo for o tratamento cirúrgico e complementar. Por tudo isto, só por si, do diagnóstico precoce, resultariam benefícios económicos facilmente perceptíveis, para o País, para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), para os pacientes e suas famílias.

João Leite Moreira

Médico dentista

Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Dentária Hospitalar