O PIPCO – Projeto de Intervenção Precoce do Cancro Oral já detetou, desde a sua implementação em março de 2014, 440 lesões malignas ou pré-malignas.

São dados revelados em Évora, durante os “Encontros da Primavera de Oncologia”, por Filipe Freitas, membro do Grupo de Acompanhamento do PIPCO e da Mesa da Assembleia Geral da Ordem dos Médicos Dentistas.

O PIPCO já abrangeu perto de 8 mil doentes, tendo sido realizadas 3806 biópsias pelos médicos dentistas aderentes ao programa.

De acordo com os últimos registos oncológicos nacionais, anualmente surgem cerca de 1600 novos casos de cancro da cavidade oral e faringe. O cancro oral é mais frequente nos homens acima dos 45 anos e o tabaco e consumo em excesso de álcool são os principais fatores de risco.

A infeção pelo vírus do papiloma humano constitui também um importante fator de risco, sobretudo para os tumores da orofaringe.

Quando detetado precocemente o cancro oral pode ser tratado e o objetivo do PIPCO é precisamente rastrear doentes de risco e identificar lesões numa fase inicial.

Os “cheques diagnóstico” são emitidos pelo médico de família quando há lesões suspeitas, sendo os doentes referenciados para um médico dentista aderente ao PIPCO. Caso se confirme a necessidade de esclarecer a natureza da lesão, o médico dentista emite um “cheque biópsia”, realiza o procedimento cirúrgico e envia para análise para determinar o diagnóstico.

Filipe Freitas salienta que “o número de doentes abrangidos tem crescido todos os anos. Uma das grandes virtudes deste projeto é a utilização de uma forma eficiente de toda a capacidade instalada em termos de recursos públicos e privados, no sentido de permitir o diagnóstico precoce de lesões malignas, garantindo depois uma rápida resposta por parte dos serviços de saúde para o tratamento atempado da doença”.

O carcinoma espinocelular é o tipo de cancro mais frequentemente detetado, enquanto que a leucoplasia é a lesão com potencial de malignização mais importante. Uma lesão branca ou vermelha da mucosa oral sem razão aparente, uma ferida que não cicatriza ou um aumento de volume irregular, devem merecer especial atenção. Dor, dificuldade em engolir ou em movimentar a língua constituem também motivo de alerta.

Filipe Freitas alerta que “Portugal é um dos países da Europa com maior taxa de incidência de cancro oral, sendo que a taxa de mortalidade também é bastante elevada no nosso País. A sobrevivência ao fim de 5 anos é de apenas 40%, por comparação com os 47% da média europeia.

De um modo geral, a sobrevivência é ainda menor nos estádios avançados do tumor, sobrevivendo apenas 15 a 30% dos doentes 5 anos depois do diagnóstico tardio. Portanto, o diagnóstico precoce é o mais importante fator para o prognóstico da doença, permitindo alcançar boas taxas de sucesso dos tratamentos. O médico dentista desempenha um papel fundamental quer na prevenção quer no diagnóstico precoce da doença”.