Os Números da Ordem 2015, divulgados esta semana, indicam um aumento da emigração de médicos dentistas. Mais de metade dos profissionais inativos da OMD, que pediram a suspensão da inscrição no último ano, tenciona exercer no estrangeiro.

Liliana Gameiro integra o conjunto de mais de 1300 profissionais que emigraram. Após quatro anos a trabalhar em condições que não a satisfaziam profissionalmente, a médica dentista da Marinha Grande explicou em entrevista à RTP os motivos que a levaram a rumar à Holanda, onde exerce há cerca de dois anos.

À OMD Liliana Gameiro falou do desejo de no futuro regressar a Portugal e deixou alguns conselhos importantes para os colegas que ponderam exercer fora do país.

O que a motivou a procurar uma oportunidade na Holanda?

O decrescente número de pacientes e de volume de trabalho, a saturação do mercado e a minha insatisfação relativamente às condições em que trabalhava, que não me permitiam evoluir profissionalmente, levaram-me a procurar outras opções. Tinha já vários colegas na Holanda e houve inclusive uma que me disse que andavam à procura de médicos dentistas portugueses, uma vez que estavam muito satisfeitos com o trabalho dela.

Este conjunto de circunstâncias aliadas à minha vontade de sair e conhecer outras realidades, deram-me ainda mais coragem para agarrar uma oportunidade na Holanda. Também ponderei Inglaterra, que é onde se encontram a maior parte dos nossos colegas. Analisei o mercado de trabalho e o funcionamento dos sistemas de saúde nos dois países e optei pela Holanda.

Como tem decorrido a adaptação ao novo país?

Está a correr bem. A questão da língua é a mais complicada, mas já tirei alguns cursos e tento sempre falar holandês. De resto foi uma adaptação tranquila.

Regressar a Portugal está nos planos?

Se tivesse as mesmas condições de trabalho ou pelo menos semelhantes regressaria. Fui para a Holanda porque acima de tudo queria sair da minha zona de conforto, crescer profissionalmente e conhecer uma realidade profissional diferente. Estou feliz com a decisão que tomei, tem sido uma experiência enriquecedora e gratificante, mas a partir do momento em que não me sentir bem, regresso ou mudo de país.

Tendo em consideração a sua experiência, que conselhos podem ser transmitidos aos colegas que tencionam ou ainda estão a ponderar emigrar?

Quem pretende sair tem que ter mentalidade aberta e estar disposto a adaptar-se a uma nova realidade, ou seja, a uma nova língua, a uma nova cultura e até a uma alimentação e clima diferentes. Os que tiverem vontade de emigrar devem informar-se bem sobre o país de destino, o respetivo sistema de saúde e estarem atentos às condições que são oferecidas, porque começa já a haver alguma exploração.

Em alguns países já há a perceção de que o mercado de trabalho em Portugal está muito saturado, que as pessoas têm que emigrar e, portanto, pode haver alguma exploração. É preciso avaliar bem as condições e que se dirijam às entidades competentes em caso de dúvidas. Por exemplo, na Holanda temos o KNMT, uma associação privada e voluntária de médicos dentistas, que oferece apoio e suporte aos seus membros, nomeadamente com contratos de trabalho standard que protegem os nossos direitos. Além disso, na Holanda, a entidade empregadora pode dar a possibilidade de trabalhar como empregado.

Isso significa que o dentista é pago à hora, tendo direito a seguros pagos, férias remuneradas, entre outras regalias. Enquanto em Portugal, só existe a possibilidade de trabalhar a recibos verdes à percentagem, levando a muitas situações de exploração, na Holanda é pouco provável que isso aconteça, uma vez que há uma tabela salarial (tanto para empregados como para trabalhadores independentes) que é aplicada de acordo com os anos de experiência do profissional.

Portanto, ganhou outra qualidade de vida…

Sim, sem dúvida. Os horários de trabalho terminam por volta das 16h/ 17h, pelo que nos resta muito tempo livre para nos dedicarmos a outras atividades e também para nos atualizarmos profissionalmente.

 

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